Direto da Sacristia
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A Parada Gay e os católicos

Postado em 08 julho 2011por E. Marçal

Imaginemos um elenco de fé e costumes que perpassou séculos; que já existia antes mesmo de todas as reivindicações a que hoje assistimos baseadas em premissas inconvincentes. Imaginemos uma instituição que por desejo divino apenas tem o ofício de transmitir isso ao mundo, podendo apenas – digo – atualizar matérias disciplinares, mas nunca algo que está presente no maior de seus livros. Agora imaginemos sua doutrina e sua pregação serem desprezadas e ridicularizadas – como tratarei adiante – em nome de uma sensibilidade ao direito de felicidade dado a todos, de um dever de “acompanhar” a modernização de todos os pensamentos… por fim, em nome de uma dita coerência entre a pregação e aquilo que praticam aqueles mesmo que pregam – ou não – a doutrina, mesmo que os que são incoerentes com seus votos sejam em número consideravelmente pequeno em face do que são fiéis. Depois de todas essas considerações, analisemos a ofensa ao nosso sentimento religioso ocasionada pelo uso indevido de imagens de santos durante a Parada Gay em São Paulo.



A Parada Gay e os católicos
Edição 2011 e ataque a um artigo de nossa fé


No Livro dos Números, há um dos trechos mais curiosos da Escritura: no capítulo 22, o escritor sagrado relata quando Balaão, selado em sua jumenta, partiu ao encontro de Balac, rei de Moab, que temeroso queria que o sacerdote amaldiçoasse os filhos de Israel. Ele não o fez, mas ensinou aos inimigos dos hebreus que apresentasse a estes formosas mulheres que os fariam cair em prostituição. Bom, cito o exemplo de Balaão, pois, a caminho do reino de Balac, ele não foi capaz de ver o Anjo de Deus que impedia que sua jumenta prosseguisse viagem, onde ele rogaria maldições sobre o povo santo. Impedido de ver que o Anjo era a causa por que a jumenta não andava mais, Balaão começou a espancá-la. Aqui começa a parte mais interessante do trecho: Deus faz com que a jumenta fale e pergunte ao seu dono o porquê da agressão, se ela é impedida que continuar a viagem. Portanto, se Deus fez a jumenta de Balaão falar para mostrar que ele estava errado, quanto mais o que Ele fará para o nosso bem.

Pois bem. No sábado passado, enquanto “caminhava” pelos canais, involuntariamente parei em um que apresentava um pastor protestante de grande destaque nacional. No vídeo, ele [note: um pastor protestante] analisava a ofensa ao sentimento religiosos de nós católicos, quando, ao longo de toda a Avenida Paulista, 170 cartazes, com 12 homens em posturas sensuais representando santos da Igreja, foram afixados durante a chamada Parada Gay. Privo-me de publicar aqui as fotografias dos infelizes cartazes. Não quero manchar este blog com imagens que deploram a nossa religião. Longe de mim ofender o prestigiado pastor quando comparo as suas palavras ao episódio de Balaão. Não. Ao referir-me a ele, quero dizer que uma pessoa que não compartilha de nossa fé foi um dos poucos a protestar contra o que ele chamou de “ridicularização” de símbolos de nossa fé.




Àqueles que perguntam o motivo de não concordarmos com o uso de [pseudo-]imagem de santos, explico: Pelo Batismo nos tornamos filhos adotivos de Deus e templos do Espírito Santo. Eis o porquê de o corpo dos cristãos falecidos serem incensados nos ritos exequiais: reverência àquele que foi templo do Espírito Santo. Como toda a criação, decaída pelo pecado mas salva pela redenção de Cristo, recebe o convite à santidade – tendendo à perfeição, como também reza um axioma filosófico, todos os batizados são chamados a se aperfeiçoarem a Deus, que é Santo e fonte de toda santidade. Portanto, os cristãos que atingiram um exercício das virtudes e uma forte amizade e fidelidade com Deus e que têm seu culto permitido em toda a Igreja, são venerados como modelos seguros para qualquer batizado, identificamos com Cristo no auxílio que prestam com suas orações à nossa salvação. Isso é a comunhão dos santos: participação nas coisas santas e entre os santos – artigo presente em nosso Credo. Negar a comunhão dos santos é negar a santidade da Igreja, que não pode ser abalada por nada, como o quis Deus. Segundo o Catecismo de São Pio X, constitui-se pecado contra o segundo mandamento do Decálogo (não tomar seu Santo Nome em vão) “blasfemar contra Deus, contra a Santíssima Virgem ou contra os Santos“.

O que agrava ainda mais a ofensa a nós é que, ao lado das [pseudo-]imagens dos santos, estavam slogans aconselhando o uso de preservativo, já que, para eles, diante do perigo do contágio de doenças sexualmente transmissíveis, nem mesmo santo protege. Segundo a organização do evento, essa audácia seria [mais um] um protesto “ao dogmatismo religioso que orienta contra o uso de preservativos, pregando a castidade sexual e favorecendo a epidemia de doenças”.

Hoje formou-se a ideia de que amor a quem erra é comprovado na cumplicidade com a prática, ou providências que não privem a liberdade, já que a pessoa não tem plenamente culpa de seu erro, mas é como se não lhe restassem opções. Isso foi o que fez com que muitos superiores eclesiásticos errassem no trato com casos de escândalos sexuais envolvendo religioso: confundiu-se amor a quem erra com apologia ao erro.

Mais uma vez, militantes dos direitos dos homossexuais não foram felizes em suas colocações. Eles reclamam para si liberdade e respeito. Sim. Obviamente, todos somos livres e temos direito ao respeito – ambos os casos também previstos nas leis nacionais. Todavia, hoje incutiu-se – com a ajuda de posturas como a da edição desse ano – a quase automática relação entre homossexual e depravação sexual. Se eles apenas exigissem liberdade e respeito aos seus… mas sempre unem a isso o antigo discurso do uso de preservativos. E, portanto, já criticam quem não é a favor das práticas homossexuais, e, com a apologia aos preservativos, encontram mais um motivo de criticar quem não comunga de seus posicionamentos – entre muitos, nós. Por conseguinte, acusam a Igreja de insensibilidade, retrógrada e incapaz de reconhecer que entre os ministros do altar também há quem engrosse as fileiras daqueles que também são homossexuais. Só que, lamentavelmente, o incontrolável desejo de sua condição sexual não ser vista como coisa de outro mundo e a dor de se sentirem discriminados por vários setores sociais os cegam e os impedem de ver que a Igreja não é isso que eles pensam.

É bem verdade que o Magistério, apoiado na Escritura, nunca negou que interpreta os atos de homossexualidade intrinsecamente desornados. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementariedade afetiva e sexual verdadeira (Catecismo da Igreja Católica, n. 2357). Os atos sim, não podem ser aprovados, pois, como eu falei no início, há coisas que a Igreja não pode e não deve mudar. Agora, no número seguinte ao citado do Catecismo, a Igreja não fecha os olhos à provação que constitui-se a homossexualidade à maioria dos que a padecem. Por isso, a Igreja como mãe e como educadora da sociedade, aconselha que tais pessoas nunca devem sofrer discriminação injusta, mas acolhidas “com respeito, compaixão e delicadeza”. Elas são chamadas a unir seu sofrimento ao sacrifício da cruz do Senhor e à castidade, “pelas virtudes de autodomínio e no apoio de uma amizade desinteressada”.

Sua Eminência o Cardeal Scherer
Arcebispo de São Paulo

Foram poucos expoentes da Igreja [talvez por causa do assunto, como nas últimas eleições presidenciais] que levantaram a voz contra a vergonha que fizeram à nossa fé na Avenida Paulista no último dia 26 junho. O Em.mo Cardeal Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, é um dos que tiveram coragem de denunciar e reprovar a ofensa que nos foi feita.

O Fratres In Unum tem divulgado uma campanha contra o que nos fez a Parada Gay 2011, inclusive com uma citação do Código Penal que criminaliza o ato de ofensa ao sentimento religioso. Espero que todos os que leem este desabafo, ou fiel à fé que professa e, portanto, querendo defendê-la contra atos estúpidos que a despreza ou um leitor que também acredita que o que fizeram foi deplorável ao sentimento religioso, disponham-se a ajudar a cobrar das autoridades competentes um posicionamento ou que corrija o que foi feito ou que impeça que haja outros exemplos iguais ou piores (caminhamos a isso):


Queixar-se com as entidades governamentais que financiaram o evento

Prefeitura de São Paulo
São Paulo Turismo
Ministério da Saúde
Ministério da Cultura
Caixa Econômica Federal
Petrobrás


Manifestar sua inconformidade às empresas patrocinadoras da Parada Gay

Playcenter
Blue Tree Hotels
TAM Viagens


Entrar em contato com as Procuradorias Regionais dos Direitos do Cidadão
para denunciar crime de ofensa ao sentimento religioso




A Igreja indubitavelmente quer e pode conduzir todos à salvação, mas esse desejo não passa por esquecer-se da fé que recebeu e que professa até o fim dos tempos. No seio da santa Madre Igreja qualquer pecador encontrará o maior amor do mundo, potente de perdoar qualquer coisa, mas lá nunca esse sentimento será transvestido de cumplicidade e omissão. Deus não o faz, Sua Esposa também não o fará.

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