Domus ecclesiae
Talvez, a frequência com que entramos em igrejas – pelo menos assim eu espero – faz-nos deixar de perceber o significado de cada elemento que elas contêm, ou que deveriam conter. A história e a teologia da construção de uma igreja.
Texto do seminarista Carlos Donato, da Arquidiocese da Paraíba.
A igreja de pedra
Evolução e significado
A Igreja, é uma visualização da Jerusalém do céu para a qual rumanos. Por isso, deve lembrar a todos esta realidade sobrenatural e visível, já em nosso meio por causa do edificio o qual apontando o alto ceu nos faz refletir nossa vocação de filhos do céu.
Continuando nossos artigos sobre os diversos aspectos da liturgia. Chegamos ao momento em que refletiremos sobre o templo cristão, chamado a ser sinal da realidade futura do céu, onde todos nós cristãos nos encontraremos no eterno festim da Jerusalém do céu, nossa mãe. O edifício católico é concebido como Domus Dei; tudo deve falar dele, a grandiosidade, iluminação, a posição do edifício, muitas vezes voltada para o Oriente, voltado para o “Sol Iustitiae” da parusia, e a sua planta em forma de Cruz. E o próprio Cristo que nela habita, fazendo-a Casa de Deus de forma estável e contínua.
Por muitos anos a Ecclesia, comunidade dos convocados, celebrava a Eucarista nas domus ecclesiae, casas onde os cristãos, provavelmente à noite, reuniam-se na beata esperança do retorno do Senhor. Eram casas normais onde se desenvolvia a vida normal de uma família, mas que no domingo dia do Ressuscitado tornavam-ne o centro da pequena ou grande comunidade cristã da era apostólica. Na época pós-apostólica nos deparamos com as grandes perseguições, onde não se podiam sustentar as domus ecclesiae. Os fiéis começaram a reunir-se nas catacumbas, dado que elas não podiam ser violadas pelo imperador e seus sequazes, pois eram locais sacros. São testemunhas dessa realidade as catacumbas romanas da Via Ápia, de modo especial as catacumbas de São Sebastião, onde encontramos a traditio apostolica de Pedro e Paulo para onde, por causa da perseguiçao, foram levadas as sagradas relíquias dos Grandes Apóstolos e onde celebravam-se os Divinos Mistérios. São diversos os escritos, sejam em grego, sejam em latim, deixados pelos fiéis do século III.
Com a Paz Constantina, começam-se a construir as basilicas cristãs. Primeiro, como mãe de todas, a Patriarcal Basílica do Santíssimo Salvador do Latrão, Catedral de Roma. A de São Pedro, para guardar a memória do primeiro Bispo de Roma e Vigário de Cristo; e a de São Paulo Fora dos muros, para proteger as relíquias de Paulo, apóstolo dos gentios. As igrejas constantinianas são em forma de cruz latina, recordando aos fiéis que a cruz é o símbolo da salvação.
No século V d.C., encontramos as basílicas imperiais construídas sobre a influência bizantina com os seus mosaicos, que serviam como um belo catecismo do qual se servia o bispo para explicar a fé aos fieis. No transcorrer dos séculos surge o estilo gótico com suas famosas catedrais plenas de luz e de cores, com suas pontudas e grandíssimas torres que apontam para o céu, recordando a todos que devemos manter o nosso coração ao alto. Após o gótico temos a beleza e peculiaridade do barroco com suas talhas em ouro, a leveza dos altares, o movimento das pinturas e imagens como se viessem ao nosso encontro.
Em nossa época, infelizmente, encontramos a expressao do nihilismo, do vazio e da ausência do sagrado. Nossas igrejas sem nenhuma expressão teológica ou religiosa, feitas como um salão de festas, um caixote, uma circunferência sem arte. Muito longe de levar o coraçao ao alto.
Após este breve resumo histórico-crítico, gostaria de escrever sobre a mistagogia do templo cristão catolico. Usarei como o modelo clássico. Comecemos pela pedra fundamental, símbolo de Cristo sobre o qual construímos a nossa fé. Ele é o fundamento do que cremos, dos mistérios que celebramos e que realizamos dentro do templo de Deus. As paredes feitas de pedra representam dos fiéis que, como as pedras, não são iguais; porém, com o cimento do Espírito Santo e a água do batismo,unem-se, encaixam-se de forma que na diversidade surge a unidade da fé. E edificamos a igreja de Deus. Vemos a porta, de acesso à igreja; recordemos de Cristo é a única porta de acesso à Jerusalém do céu, de que a Igreja deve ser sinal visível. Deparamo-nos com os cidadãos do céu – os santos representados em suas imagens – vemos neles os heróis da nossa santa religião. Ao levantarmos a vista, vemos o Cordeiro imolado redivivo, seja no tabernáculo, seja representado sentado no trono como Senhor e Salvador. Vemos o altar onde se imola a única e verdadeira Vítima salvadora, vendo desta forma a centralidade do sacrificio.
Para a construção de nossas igrejas deve haver uma fé e uma vivência cristã dos santos mistérios. Assim elas se tornarão o que devem ser: lugares acolhedores que nos levem a encontrarmo-nos com o Senhor e contemplá-Lo em Seus divinos mistérios.