Direto da Sacristia
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Ut unum sint

Postado em 25 março 2011por E. Marçal

Confiteor

Os caminhos de diálogo ecumênico são tão antigos quanto a Cristandade. Mesmo antes do Grande Cisma de 1054 e do Cisma do Ocidente provocado pelo Protestantismo, a Igreja já dialogava com os cristãos que não estavam em comunhão plena com os católicos latinos e, obviamente, com o Papa. Agora, nestes tempos – que parecem ser os últimos – a relação com os não-católicos descobre um novo cenário nunca antes visto.




Os ordinariatos pessoais
Cruzando o Tibre e novos tempos no catolicismo


Ordenações presbiterais dos três primeiros presbíteros do Ordinariato britânico
15 janeiro 2011

Tudo começou em outubro de 2007, quando o Arcebispo Primaz da Comunhão Anglicana Tradicional, John Hepworth, seguido de bispos e fiéis, assinaram o Catecismo da Igreja Católica e redigiram uma carta solicitando a comunhão com Roma. Eles causaram a Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus, assinada pelo Papa Bento XVI em 04 novembro 2009 – festa do cardeal São Carlos Borromeu, que esteve presente no Concílio de Trento – e que permitiu, entre outros privilégios, que os anglicanos convertidos, “sem excluir as celebrações litúrgicas segundo o Rito Romano, podem “celebrar a Eucaristia e os outros sacramentos, a Liturgia das Horas e outras ações litúrgicas segundo os livros litúrgicos próprios da tradição anglicana aprovadas pela Santa Sé”. Eles serão como os católicos orientais: unidos a Roma, mas preservando suas tradições. Isso é algo inaudito no catolicismo, pois nunca tantos fiéis de outra confissão pediram, ao mesmo tempo, para “atravessar o rio Tibre, cruzar o limiar da Basílica Vaticana e reconhecer no Sucessor de Pedro aquele a quem Cristo confiou a guia de Sua Igreja” – ou seja, confessar a única e verdadeira fé. Por fim, nesse ano já foram ordenados presbíteros cinco bispos anglicanos que abjuraram sua antiga fé, dentre os quais o Rev.do Mons. Newton Keith, constituído superior do Ordinariato britânico e distinguido com o título de protonotário apostólico. Nesta Páscoa, até 900 anglicanos professarão a fé católica. Depois, em data a ser confirmada, a eles será administrado o sacramento da Confirmação.

Bento XVI discursa em sua visita à igreja luterana de Roma
19 março 2010

Também luteranos da América do Norte e da Escandinávia estão pedindo um Ordinariato ao Santo Padre, provavelmente segundo os moldes do anglicano britânico. Mesmo de os anglicanos dos Estados Unidos terem pedido por primeiro uma configuração diferente no seio da Igreja, foi repleta de significado a ereção do primeiro Ordinariato no país onde Henrique VIII rompeu com o Papado.

O Em.mo Cardeal Nichols, Arcebispo de Westminster e ordenante dos três presbíteros,
oscula as mãos dos neo-sacerdotes católicos

O desejo de unidade foi, desde sempre, expressado por Bento XVI como um rumo de seu pontificado. Em sua belíssima homilia pelo início de seu ministério petrino, ele afirmou, em analogia ao evangelho da pesca milagrosa, que a rede dos apóstolos não se rompeu. Assim acontece, segundo ele, com a Igreja. Contudo, hoje a rede está rompida e, para o Papa – isso foi expressado na “Anglicanorum Coetibus” – a unidade na Igreja é algo urgente, para cumprir o que Cristo quis: “Ut omnes unum sint, sicut tu, Pater, in me et ego in te” – “Para que todos sejam um, como tu, Pai, está em Mim e eu em Ti” (cf. Jo 17, 21). É, o Romano Pontífice é o “perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis” (Concílio Vaticano II, Lumen gentium, 23). Mas, nem todos na Igreja acreditam nisso. Muitos levantaram-se sua voz contra o Sucessor de Pedro em seu apostolado pelo cumprimento da oração de Cristo. Primeiramente, as críticas lhe sobrevieram quando quis que fosse anulada a excomunhão fulminada contra os quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, sagrados em junho de 1988 pelo Arcebispo Marcel Lefebvre sem mandato pontifício. Em seguida, a aceitação do pedido de ingresso na Igreja por parte dos anglicanos também provocou polêmica. Tal comportamento expressa o desejo de presidir o episcopado e pronunciar o que é bom ou maléfico ao Corpo místico de Cristo. Esses mesmos, agindo assim, rompem a rede de Cristo e em nada contribuem para a unidade católica. Quem não congrega com Pedro dispersa (cf. Mt 12, 30).

Visita papal à igreja luterana de Roma
Destacam-se o altar luterano com o Crucificado e as seis velas

Impossível não fazer uma leitura escatológica de tais acontecimentos. Anglicanos e luteranos, à luz da graça divina, reconhecem a verdade integralmente presente na Igreja e nesta desejam agora confessar a sua fé em Cristo. Lembro-me do que disse o profeta Isaías:
Is 2, 2-3

Eis que vai acontecer no fim dos tempos,
que o monte onde está a casa do Senhor
será erguido muito acima de outros montes,
e elevado bem mais alto que as colinas.

Para ele acorrerão todas as gentes,
muitos povos chegarão ali dizendo:
“Vinde, subamos a montanha do Senhor,
vamos a casa do Senhor Deus de Israel,

para que ele nos ensine seus caminhos,
e trilhemos todos nós suas veredas.
Pois de Sião a sua Lei há de sair,
Jerusalém espalhará sua Palavra”.

Bento XVI e Bartolomeu I
Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo
29.junho.2008

Deus, como não encher o coração de esperança em relação à unidade com os católicos ortodoxos, quando o Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I, em discurso a um grupo de estudantes do Instituto Pontifício Romano Santo Apolinário, aconselhou-os a seguirem o Papa “com afeição e simpatia”? Como não sentir ainda mais próxima a plena comunhão tão efetivamente defendida por Bento XVI?


Beatíssimo Padre, aqui estamos nós em defesa do cumprimento do desejo de nosso Senhor. Mesmo que muitos ousem erguer a voz contra vós, aqui estamos nós fielmente unidos ao Papa. Se Cristo o quis e vós também o quereis, como ousaremos desejar e defender o contrário? Sim, que todos sejam um no evangelho, na fé, na doutrina e na obediência a vós, doce Cristo na terra.


Assim seja!

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