Direto da Sacristia
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1ª Congregação Geral: Eleição das Comissões

Postado em 13 outubro 2012por E. Marçal

[13 outubro 1962]

Esta manhã, às nove horas, teve início a primeira Congregação Geral do Concílio Ecumênico Vaticano II, na Basílica Vaticana. Foi presidida pelo Cardeal Tisserant. Depois da Santa Missa, celebrada por Mons. Ermenegildo Florit, Arcebispo de Florença, no Altar Conciliar, foi recitada pelo Secretário-geral a invocação ritual do Espírito Santo: “Adsumus“.

Mons. Ermenegildo Florit, celebrante da missa da primeira Congregação Geral

A “Adsumus” é uma antiga oração que remonta, na sua formulação latina, a Santo Isidoro de Servilha (560-636) e que exprime muito vivamente a fé que o Magistério Eclesiástico tem, e a absoluta confiança, na assistência do Espírito Santo, assistência negativa, externa, positiva e interna:

“Aqui estamos diante de Vós, ó Espírito Santo Senhor nosso; aqui estamos cônscios dos nossos inúmeros pecados, porém unidos de modo particular em Vosso nome. Vinde a nós e ficai conosco: dignai-Vos de penetrar nossos corações. Sede guia das nossas ações, indicai-nos aonde devemos ir, e mostrai-nos o que devemos fazer, a fim de que, com Vosso auxílio, em tudo possa ser-Vos agradável a nossa obra. Sede, Vós só, o nosso inspirador, e dirigi as nossas intenções, pois só Vós possuis um nome glorioso juntamente com o Pai e com o Filho. Não permitais nunca que sejamos perturbadores da justiça, Vós que sois a infinita equidade; não permitais que a ignorância nos induza ao mal, que as honrarias nos curvem, que os interesses morais e materiais nos corrompam. Mas uni só a Vós os nossos corações, fortemente, com o dom da Vossa graça, a fim de que possamos ser em Vós uma coisa só, e em nada nos afastemos da verdade. Assim como estamos unidos em Vosso nome, possamos em cada obra nossa seguir os ditames da Vossa piedade e da Vossa justiça, a fim de que hoje e sempre o nosso juízo não se aparte do Vosso, e no século futuro possamos conseguir o prêmio da nossa ação. Amém”.

[Complemento nosso, que embora não esteja presente na crônica deste dia,
era fato comum durante todas as Congregações Gerais:]

O “Evangelho do Concílio” entre  velas,
no trono que serviu à mesma finalidade no Vaticano I


A seguir, o Evangelho foi solenemente levado ao altar onde continuou aberto entre […] velas acesas durante toda a reunião. O “Evangelho do Concílio” é o Códice Urbinato 10 da Biblioteca Vaticana. Trata-se de um esplêndido manuscrito da Renascença Italiana, da corte de Urbino. Desde 1667 pertence à Biblioteca Vaticana. Foi feito por ordem de Frederico de Montefeltro. As 255 folhas em pergaminho foram escritas pela elegante mão de Mateus de Contugi entre os anos de 1475-1482, Tem 1082 iniciais e 499 títulos em ouro. O precioso manuscrito é colocado sobre o trono que serviu também para isso no Vaticano I.

Logo depois, começaram os trabalhos. Foram distribuídos três fascículos aos Padres Conciliares que ainda não os haviam recebido: o primeiro, com a lista completa dos Padres Conciliares; o segundo, com o elenco dos Padres que já foram membros ou consultores das comissões preparatórias do Concílio; o terceiro, contendo as dez cédulas, uma para cada Comissão, destinadas à votação dos 160 membros, cuja eleição, segundo as normas do Regulamento, é da competência dos Padres Conciliares. No início da votação, pediu a palavra o Cardeal Liénart, Bispo de Lille, ao qual se associou também o Cardeal Frings, Arcebispo de Colônia, para apresentar uma moção de adiamento, motivando-a com a necessidade de uma prévia consulta, especialmente entre os membros das diversas circunscrições eclesiásticas, que permitirá aos Padres Conciliares um melhor conhecimento dos candidatos. Por causa desta moção, já um pouco antes das 10 horas a Assembleia foi dissolvida. O Conselho de Presidência reuniu-se logo depois na Aula Conciliar. Estavam presentes os dez Presidentes, os Cardeais Tisserant, Tappouni, Liénart, Caggiano, Gilroy, Ruffini, Alfrink, Pla y Deniel, Spellman e Frings.

Celebração cotidiana da Santa Missa no Vaticano II.
 Primeiros sinais da reforma litúrgica que seria uma das decisões iniciais do Concílio

Com relação à Santa Missa, celebrada todas as manhãs na Aula Conciliar, antes da Congregação Geral […]: a Missa é celebrada sempre com o altar “versus populum; é dialogada; depois da elevação, durante o “grande silêncio” até o Pater Noster, o coro canta, apesar de todas as recentíssimas leis contrárias; sempre se omitiram as três Ave-Marias no fim.

Frei Boaventura Kloppenburg, teólogo conciliar

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