Direto da Sacristia
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Arautos do Evangelho e Sucumbíos

Postado em 28 março 2011por E. Marçal

Com informações do Fratres in Unum e dos Arautos do Evangelho
Arautos e o governo de sua primeira circunscrição eclesiástica

Em 16 abril 1924, o Papa Pio XI erigiu a Prefeitura Apostólica de São Miguel de Sucumbíos, no nordeste do Equador. Como é comum a essas circunscrições eclesiásticas, Sucumbíos foi confiada a professos de uma ordem religiosa, a dos Carmelitas Descalços, não sendo que, para assumir o cargo de prefeito apostólico, o frade possua a dignidade episcopal. Assim aconteceu aos dois primeiros: Pe. Pacífico del Carmine, OCD governou a Prefeitura de 1937 a 1954; e o Pe. Manuel Gomes Frande, OCD governou-a de 1955 1968. Enquanto o Pe. Gonzalo López Marañon, OCD era Prefeito Apostólico, nomeado assim em 1970, o Venerável Papa João Paulo II elevou a referida circunscrição ao status de Vicariato Apostólico em 02 julho 1984. Em virtude desta elevação, o mesmo Papa nomeou o então Pe. Gonzalo Marañon Bispo titular de Seleuciana e o conservou no mesmo cargo de Vigário de Sucumbíos. Assim sendo, foi sagrado bispo em 08 dezembro do mesmo ano.


O Vicariato de Sucumbíos abrange uma área territorial de 18.612 km², com 147.445 habitantes que, em sua maioria, são colonos, trabalhadores de empresas petrolíferas, comerciantes, índigenas, afro-americanos e imigrantes colombianos.


Cerimônia dos Arautos em sua igreja San Benedetto in Piscinula
Roma

Em 30 outubro do ano passado, o Santo Padre Bento XVI aceitou a renúncia ao governo pastoral do Vicariato Apostólico de Sucumbíos apresentada pelo Mons. Gonzalo Marañon, em conformidade com o cânon 401 § 1 do Código de Direito Canônico. Seguidamente, foi nomeado como Administrador Apostólico do Vicariato – sede vacante de Sucumbíos – o Mons. Ramón Ibarguren Schindler, do clero da Sociedade Clerical Virgo Flos Carmeli dos Arautos do Evangelho, até então capelão e assistente espiritual do Colégio Internacional dos Arautos, na cidade de Assunção, Paraguai.

Mons. Rafael Schindler, EP
Administrador Apostólico de Sucumbíos

Mons. Schindler nasceu em 26 junho 1952 em Buenos Aires, Argentina. Foi ordenado diácono em 08 dezembro 2004, em Avezzano, Itália e ordenado sacerdote em 15 junho 2005 na Basílica do Carmo em São Paulo, Brasil. Na Pontifícia Universidade Bolivariana de Medellín, Colômbia, obteve a licenciatura canônica em Teologia Moral com ênfase na Doutrina Social da Igreja.

Mons. Gonzalo Marañón
em cerimônia de reconhecimento do governo do Equador

Não aconteceu só isso, contudo. A renúncia do bispo-vigário apostólico foi seguida do recebimento de uma carta do Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Bispos, pedindo ao agora bispo emérito o abandono do território do Vicariato dentro de uma semana (início de novembro passado) e convidando-o a retornar ao seu país de origem, a Espanha. Os problemas começaram aqui. Muitos repudiaram o “tratamento” ao bispo que exerceu seu ministério sacerdotal, e depois episcopal, por 40 anos ao todo. A isso soma-se o fato de, segundo alguns, o Vicariato nunca ter sido visitado, embora com vários convites feitos, pelo Núncio Apostólico no Equador, S.E.R. Arcebispo Giacomo Guido Ottonelo. Algumas pessoas congregaram-se em organizações e, em 28 janeiro 2011, assinaram uma declaração contra o Vigário Apostólico do clero dos Arautos do Evangelho. Entre outras acusações, está o “afastamento dos Arautos das estruturas organizativas populares” que foram feitas e fortalecidas “ao longo dos últimos 40 anos”; reclamam o favorecimento da atenção aos “mais pobres, […] o diálogo intercultural, a tolerância e a correspondência sociedade-Estado; e protestam contra “a implantação de uma Igreja hierárquica, imposivista, marchista, sem participação cidadã, e afastada dos interesses de trabalho das organizações sociais, culminando no pedido de “saída da ‘Congregação’ dos Arautos do Evangelho do Vicariato”.

Cardeal Franc Rodé em cerimônia de dedicação
da igreja Nossa Senhora do Rosário e sagração do respectivo altar
Arautos do Evangelho, São Paulo – Brasil
24.fevereiro.2008

Como não bastasse, aliou-se ao bispo-vigário emérito e aos que protestavam contra os Arautos a voz do presidente do Equador Rafael Correa. Em 09 março passado, ele condecorou Mons. Gonzalo López na sede do governo federal em sinal de reconhecimento por seus “relevantes serviços” (detalhe nosso) no Vicariato. Ademais, em seu programa semanal em cadeia nacional, o presidente Correa referiu-se com duros termos ao episcopado equatoriano pela nomeação dos Arautos do Evangelho para governar, mesmo que interinamente, Sucumbíos, e ameaçou ainda vetará a nomeação de um Vigário Apostólico que vier de congregações que se contraponham ao modelo de igreja social e progressista.






No ápice das discussões, no dia 21 passado, milhares de pessoas marcharam pelas ruas do Vicariato em sinal de agradecimento a Bento XVI pela nomeação dos Arautos para o governo e em demonstração de apoio a estes. Ao contrário, pouco fez o protesto de 300 camponeses, que não sabiam bem o que estavam fazendo, segundo Luciano Padrão. Ao término da “Marcha Branca pela Paz”, como foi intitulado o evento, foi oficiada a Santa Missa celebrada por Mons. Schindler.

Rezemos a Deus que, se foi para o bem das almas e da Igreja que o Papa enviou os Arautos para Sucumbíos, lá eles permaneçam até quando parecer bem ao Santo Padre. E que os inimigos da Igreja dispersem-se ante a voz do Vigário de Cristo na terra.

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