Direto da Sacristia
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O que os três anos do Motu proprio dirão ao Santo Padre

Postado em 17 agosto 2010por E. Marçal
A frequência do Missal de João XXIII ainda não é palpável

Bento XVI, então Cardeal Ratzinger, diz em sua autobiografia que, presente ele no Vaticano II, ficou “estupefato com a proibição do Missal antigo, dado que nunca na história da liturgia se verificara uma situação semelhante”. Ele confirma que, verdadeiramente, aconteceram reformas no Missal de Pio V ao longo dos séculos, mas nunca nenhuma contrapôs um outro Missal ao existente. As consequências desse impedimento de algo que se devolveu por cinco séculos não podiam deixar de ser trágicas. A isso, segundo ele, deve-se a crise eclesial surgida desde o fim do último Concílio e demasiadamente sentida em nossos dias. É como que foi construído um novo edifício com remanescentes do antigo, contudo, este foi proibido de ser visto, admirado ou até mesmo vivido. Por quase meio século, aqueles que fizessem referências à Missa segundo o Missal de João XXIII não eram julgados com benevolência. Eram tidos por inimigos da “renovação litúrgica e teológica” inaugurada pelos Padres conciliares do Vaticano II. Quando, na verdade, os que não entendem a hermenêutica da continuidade são os que não entendem a “verdadeira herança do Concílio”, ao que será preciso um novo movimento litúrgico, segundo o próprio Bento XVI. Para isso – melhor entendimento da continuidade da Tradição – quis o Papa promulgar e ver aplicado o “Summorum Pontificum“. Mas, veremos o que dirão os relatórios sobre a situação da Missa, dita tridentina, nas centenas de dioceses, passados os três anos de observação. Na Alemanha, segundo o Fratres in unum, quase a metade do número de missas frequentes celebradas na forma extraordinária ainda são oficiadas pelo clero da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X. A Missa nos outros 63 lugares, oficiadas por sacerdotes em plena comunhão com Roma, ou são celebradas eventualmente, ou em dias ou horários que impedem um maior números de pessoas presentes.

O cenário no resto do globo não é muito diferente ou melhor. Acredito que assim como o Vaticano II, depois de 40 anos de seu término, ainda não foi plenamente e verdadeiramente entendido, do mesmo modo ainda não será rapidamente que a Missa celebrada também pelo Missal de João XXIII – depois do histórico que precedeu e ao que assiste o “Summorum Pontificum” – conseguirá o consentimento de todos, obedientes ao que diz o Santo Padre. Ainda é preciso que muitos entendam que a Tradição é de onde se tiram “coisas novas e velhas”, como o doutor da Lei da parabóla dita por Cristo. Nela há decisões de ontem e de hoje, que não se anulam, mas sim, constituem uma perfeita continuidade. Muitos precisam entender isto, como o bispo italiano que romperá com o Santo Padre e interditará sua diocese, caso Bento XVI reze publicamente a Missa do Missal de João XXIII.

Aguardemos o que dirão os relatórios episcopais.


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