Diante do corpo de Bento XVI
Chegar hoje à Praça de São Pedro faz parecer que atravessamos a tela da televisão, do computador ou do celular: respira-se o ar de grandes e importantes momentos históricos. Embora Roma quase sempre esteja cheia de turistas, vemos que ali estão pessoas com mais motivos do que o comum. São milhares. E muitos jornalistas com os seus rostos iluminados pelas luzes de câmeras ao vivo.
16:25 horas da tarde. Entra-se na fila, que é ao modo indiano até passar pelos detectores de metal sob as colunas de Bernini, mas depois ela se torna quádrupla ou mais. Não tem caos ou falta de respeito. Uns estão em silêncio, outros tentam conversar em tom baixo, outro rezam, outros contemplam o contexto de sacralidade, ansiosos para estar diante do Altar da Confissão.
Ao longo do percurso, ainda fora da Basílica, caminha-se um pouco e se para por alguns minutos, depois se caminha e se para de novo, de modo a evitar um grande fluxo tenso de pessoas. São de todas as idades, de várias origens; religiosas, padres, leigos. Vê-se que está aberta a porta lateral de entrada da Basílica e, de longe, vê-se que ela está iluminada, com o imponente Baldaquino de Bernini, em direção do qual a fila dirige-se
Já dentro da Basílica, ouve-se a celebração da Santa Missa no Altar da Cátedra e o fluxo de pessoas é encaminhado para um percurso no centro da nave principal, delimitado pelas inconfundíveis barreiras de madeira. Caminha-se um pouco e, depois se para: é um rito. Mas, apesar de tantas pessoas, das centenas metros de caminhada e do passo lento e em blocos, o tempo passa-se rapidamente.
Aproxima-se o altar papal. Tantas coisas se passam na cabeça. Como será estar diante do corpo de Bento XVI? Tantos tiram seus celulares para registrar aquele momento, como se não a própria memória não poderá guardar tudo que está acontecendo ali. Contemplar, rezar, tirar alguma foto, parar um tempo diante dos restos mortais de Bento XVI. Mas em cinco segundos (ou será que foi menos?), com as ordens dos seguranças, embora com delicadeza, não é possível fazer tudo isso, mas sim continuar com os outros a caminhar para a esquerda, em direção à sacristia; somente ali estacionar-se e esperar não é permitido. Então, persignar-se e tentar contemplar: “É ele, é Bento”, pensar em alguma jaculatória e continuar caminhando. Mesmo assim, dá tempo de perceber que nas cadeiras do lado esquerdo é Dom Georg Gänswein que está ajoelhado num genuflexório, junto com outras autoridades.
17:20 horas. Caminha-se para fora da Basílica e volta-se ao mundo normal, a não ser porque na Praça continua aquele ar de uma página da história.