Direto da Sacristia
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Novos Príncipes da Igreja

Postado em 20 fevereiro 2012por E. Marçal

Imagens do Day Life

Bento XVI imprime mais uma vez
uma marca curial no próximo Conclave

Mesmo com as polêmicas encobrindo com nuvens negras a Cúria Romana por não conter seus arquivos confidenciais e, ao que tudo indica, ter entre seus empregados alguém que, além de ter acesso a documentos restritos, foi capaz de divulgá-los à curiosa (qual não o é?) imprensa italiana (mas esta, como nenhuma outra, vive de olho no que acontece dentro dos muros vaticanos e o que é refletido de lá), parece que ao mesmo aparentemente isso não encobriu o júbilo primeiramente do Santo Padre, seguido dos Cardeais nomeados e membros veteranos do Sacro Colégio, dos familiares e amigos dos neo-Cardeais dos cinco continentes. E isso aconteceu no mesmo dia quando, há 66 anos, o Venerável Pio XII criou 32 cardeais, entre eles 2 brasileiros (Motta, Arcebispo de São Paulo, e Jaime Câmara, do Rio de Janeiro) e o então Núncio no Brasil (Aloisi Masella).

Mais uma vez, o Departamento para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice reformou um rito presidido pelo Santo Padre. Não, não nos referimos às orações de 1965 e à união de todas as cerimônias consistoriais na celebração do sábado passado. Mas, sim à mudança semelhante introduzida há 4 anos, quando o Papa, para as duas bênçãos anuais Urbi et Orbi, deixou de usar a mitra, o pluviale e a férula papal, para usar apenas sua veste coral (batina, roquete, mozzetta vermelha com arminho e peitorale) com a típica estola vermelha (insígnia integrante do vestuário papal) . Na época, o Mons. Marini explicou que a Urbi et Orbi é uma bênção solene, mas que não comporta um rito particular. Semelhantemente, neste 4º Consistório do pontificado de Bento XVI para a criação de novos Cardeais, as rubricas pontifícias apagaram de si as anteriormente ditas mitra, capa pluvial e férula e vestiram o Romano Pontífice com sua veste coral.

Em sua homilia, o Santo Padre denunciou o desejo de glória humana que também apoderou-se dos Apóstolos – aos dois que pediram, e aos demais que se “indignaram” contra os primeiros. Com o seu pedido – disse Bento XVI, Tiago e João mostram que não compreendem a lógica de vida que Jesus testemunha, aquela lógica que deve – segundo o Mestre –caracterizar o discípulo no seu espírito e nas suas ações. E a lógica errada não reside só nos dois filhos de Zebedeu, mas, segundo o evangelista, contagia também «os outros dez» apóstolos, que «começaram a indignar-se contra Tiago e João» (Mc 10, 41). Indignam-se, porque não é fácil entrar na lógica do Evangelho, deixando a do poder e da glória. São João Crisóstomo afirma que ainda eram imperfeitos os apóstolos todos: tanto os dois que procuravam obter precedência sobre os outros dez, como os dez que tinham inveja dos dois (cf. Comentário a Mateus, 65, 4: PG 58, 622). E São Cirilo de Alexandria, ao comentar passagens paralelas no Evangelho de Lucas, acrescenta: «Os discípulos caíram na fraqueza humana e puseram-se a discutir uns com os outros qual deles seria o chefe, ficando superior aos outros. (…) Isto aconteceu e foi-nos narrado para nosso proveito. (…) O que sucedeu aos santos Apóstolos pode revelar-se, para nós, um estímulo à humildade» (Comentário a Lucas, 12, 5, 24: PG 72, 912). Este episódio deu ocasião a Jesus para Se dirigir a todos os discípulos e «chamá-los a Si», de certo modo para os estreitar a Si, a fim de formarem como que um corpo único e indivisível com Ele, e indicar qual é a estrada para se chegar à verdadeira glória, a de Deus: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos» (Mc 10, 42-44).

Após a homilia, o Papa leu os nome dos novos Cardeais, assinalando cada um com a Ordem ou Presbiteral ou Diaconal. Posteriormente, professaram a fé diante da assembleia e fizeram o juramento de fidelidade e obediência ao Papa e aos seus sucessores. Seguiu-se à imposição do barrete vermelho, entrega do anel cardinalício e atribuição, mediante uma Bula, do Título ou da Diaconia. Eis o elenco:

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Cardeais curiais


1. Cardeal Fernando Filoni,
Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos
Diaconia de Nostra Signora di Coromoto in San Giovanni di Dio
65 anos


2. Cardeal Manuel Monteiro de Castro,
Penitenciário-mor da Penitenciaria Apostólica
Diaconia de San Domenico de Guzman
73 anos


3. Cardeal Santos Abril y Castelló,
Vice-Camerlengo da Câmara Apostólica e
Arcipreste de Santa Maria Maggiore
Diaconia de San Ponziano
76 anos


4. Cardeal Antonio Maria Vegliò,
Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Imigrantes e Itinerantes
Diaconia de San Cesareo in Palatio
74 anos


5. Cardeal Giuseppe Bertello,
Presidente do Governatorato da Cidade do Estado do Vaticano
Diaconia dos Santi Vito, Modesto e Crescenzia
69 anos


6. Cardeal Francesco Coccopalmerio,
Presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos
Diaconia de San Giuseppe dei Falegnami
73 anos


7. Cardeal João Braz de Aviz,
Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada
e Sociedades de Vida Apostólica
Diaconia de Sant’Elena fuori Porta Prenestina
64 anos


8. Cardeal Edwin Frederick O’Brien,
Grão-mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém
Diaconia de San Sebastiano al Palatino
72 anos


9. Cardeal Domenico Calcagno,
Presidente do Patrimônio da Sé Apostólica,
Diaconia da Annunciazione della Beata Virgine Maria a Via Ardeatina
69 anos


10. Cardeal Giuseppe Versaldi,
Presidente da Prefeitura para Assuntos Econômicos da Santa Sé
Diaconia do Sacro Cuore de Gesù a Castro Pretorio
68 anos

Cardeais residentes



11. Cardeal George Alencherry,
Arcebispo-maior de Ernakulam-Angamaly dos Sírio-malabares (Índia)
Título presbiteral de San Bernardo alle Terme
66 anos


12. Cardeal Thomas Christopher Collins,
Arcebispo de Toronto (Canadá)
Título presbiteral de San Patrizio
65 anos


13. Cardeal Dominik Duka, O.P.
Arcebispo de Praga (República Tcheca)
Título presbiteral dos Santi Marcellino e Pietro
68 anos


14. Cardeal Willem Jacobus Eijk,
Grão-mestre da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém
Título presbiteral de San Callisto
58 anos


15. Cardeal Giuseppe Betori,
Arcebispo de Florença (Itália)
Título presbiteral de San Marcello
65 anos


16. Cardeal Timothy Michael Dolan,
Arcebispo de New York (EUA)
Título presbiteral de Nostra Signora di Guadalupe a Monte Mario
62 anos


17. Cardeal Rainer Maria Woelki,
Arcebispo de Berlin (Alemanha)
Título presbiteral de San Giovanni Maria Vianney
55 anos


18. Cardeal John Tong Hon,
Arcebispo de Hong Kong (China)
Título presbiteral da Regina Apostolorum
72 anos


19. Cardeal Lucian MureŞan,
Arcebispo-maior dos Făgăraş şi Alba Iulia dos Romenos Católicos (Romênia)
Título presbiteral de Sant’Atanasio
80 anos

Cardeais eclesiásticos


20. Cardeal Julien Ries,
Arcebispo titular de Bellicastrum
Diaconia de Sant’Antonio di Padova a Circonvalllazione Appia
91 anos


21. Cardeal Prosper Grech, O.S.A.,
Arcebispo titular de San Leone
Diaconia de Santa Maria Goretti
86 anos


22. Cardeal Karl Josef Becker, S.J.
Presbítero da Sociedade de Jesus
Diaconia de San Giuliano Martire
83 anos

* * *


Anel dado por João Paulo II aos Cardeais por ele criados


Anel dado por Bento XVI aos Cardeais
criados no último Consistório.
Fabricado pelos
Fratelli Savi ao custo de  € 1.500

Até então, Bento XVI presenteava seus “Senadores” com anéis forjados no modelo utilizado durante o pontificado de João Paulo II (com face retangular, com a imagem em traços modernos da Virgem e São João ao pé da Cruz). Contudo, este Consistório inaugurou um novo anel dado aos neo-Cardeais – na face figurando Pedro e Paulo, com uma estrela entre eles, e outros detalhes. Foram fabricados pelos ourives eclesiásticos Fratelli Savi, ao provável custo de € 1.500 (mil e quinhentos euros). Os mesmos Savi já trabalharam para o Departamento das Celebrações Litúrgicas Pontifícias e fabricaram a férula papal que Bento XVI tem usado desde algum tempo. Informações de Andrea Tornielli, no Vatican Insider.

A presença do jesuíta alemão Karl Becker foi uma surpresa que contrariou as expectativas de quem lera o comunicado divulgado pelo Vaticano, onde era noticiado que, apesar de ter sido ele nomeado cardeal em 06 de janeiro passado, por motivos de saúde, não participaria do Consistório do último dia 18, mesmo que este só seria oficiado 15 dias depois! Não obstante, receberia seu barrete vermelho, seu anel cardinalício e sua Diaconia (e não Título, como já é de nosso conhecimento), de modo privado, em outro tempo oportuno. Há quem acreditasse que, na verdade, tudo seria uma desculpa eufemística para encobrir um impedimento de alguém que não queria que o dito teólogo jesuíta recebesse o barrete que já era seu por direito. Porém, ou por restabelecimento de sua saúde ou por desejo (mais uma vez) expresso de Bento XVI, seu grande amigo, que merece seu respeito e confiança desde os tempos na “Doutrina da Fé”, o Cardeal Becker foi assim criado como todos os outros, alegria que o Papa não escondeu, ao abrir um satisfeito e seguro sorriso ao vê-lo se aproximando do altar para receber a maior distinção que um Pontífice pode conceder a alguém.


A desenvoltura do Cardeal Dolan aparenta uma familiaridade com o Vaticano
que, sem dúvidas, foi de início conquistada quando
Reitor do Pontifício Seminário Norte-americano, de 1994 a 2001


A alegria do Cardeal Dolan contagiou até o concentrado Mons. Marini


Cardeal Dolan. Sorrisos do começo ao fim do Consistório

O Arcebispo de New York Timothy Dolan já era notícias nos jornais antes mesmo de participar do Consistório: sua denunciada crítica às novas políticas de saúde do presidente Obama o tem estampado na imprensa norte-americana. E, além do mais, sua opinião é acompanhada e compartilhada pelos bispos da Conferência que ele mesmo preside. Mas, seus sorrisos e sua alegria roubaram a atenção das lentes das câmeras e figuraram o sentimento de quem é escolhido para integrar o grupo mais exclusivo de todos e que escolhe um dos homens mais importantes do mundo. A verdade é que o Cardeal Dolan, com seu perfil teológico e comunicativo, é uma das figuras que representam o aspecto da nova evangelização, tema que por ele foi explicado aos 133 Cardeais presentes no encontro com Bento XVI na sexta-feira, dia 17.

Pela primeira vez, com agora 125 cardeais-eleitores em um possível Conclave, Bento XVI superou o limite decretado pelo Papa Paulo VI – marca nunca ultrapassada por João Paulo II. Contudo, no decorrer deste ano, 11 Cardeais completarão 80 anos e, portanto, antes de 2013 o número permitido de eleitores ficará abaixo do estabelecido. Dez dos neo-Cardeais trabalham na Cúria Romana e somam-se a outros iguais que futuramente ingressarão em um Conclave cuja linha Bento XVI, que já criou 84 purpurados, esforça-se por desenhar (e não só dele, mas de toda a Igreja. Mas, sabemos que nem sempre a vontade do papa é cumprida).

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