Direto da Sacristia
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Todos podem usar solidéu?

Postado em 16 junho 2013por E. Marçal

Atenção: não é objetivo deste artigo posicionar o Blog sobre tudo para dizer quem está certo ou errado. Apenas, devido ao uso popularizado nos últimos tempos, achamos conveniente um esclarecimento.

Abaixo à emancipação do uso do solidéu

Ainda é possível ver o início do atual movimento litúrgico. Apesar de sabermos e não duvidarmos que é comum uma crise – onde também está inserida a Liturgia – após um Concílio, é inegável que o pontificado de Bento XVI impulsionou as pessoas de boa vontade a redescobrir que a Liturgia não é nossa, mas de Deus, e por isso, possuindo regras próprias e justificadas, só nos cabe desapegarmos de nossos conceitos e nos deixarmos abrir à maravilha que a fidelidade litúrgica propicia.

Bispo sentado roquete solidéu mãos

E então, como dizíamos, ainda é recente o movimento litúrgico “beneditino”. Principalmente desde o fim de 2007, quando Mons. Guido Marini começou a chefiar o Escritório das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, reapareceram no vestuário eclesiástico e litúrgico barretes, tabarros, alvas e sobrepelizes com renda, casulas romanas, orientação “versus Deum” na Missa, altares com 6 (e 7, com o Bispo) castiçais etc. Claro que havia lugares, embora contados, que mantinham esses costumes mesmo durante os difíceis e preconceituosos anos pós-Vaticano II. Isto acontecia porque neles se percebia que o último Concílio não quis romper com a tradição de 19 séculos precedentes, quem fiz fazê-lo foram muitos que tiveram o poder para convencer e, de certo modo, conseguiram. Mas, passados alguns anos, a ignorância deu lugar à inteligência e tudo isto coincidiu – repetimos – com o zelo do pontificado de Bento XVI.

Contudo, há um problema: alguns passaram a se enganar que o renascimento litúrgico na Igreja deveria lançar mão a tudo que aparentasse um conservadorismo, mas, na verdade, acabou se tratando de uma confusão das coisas. Para ser mais claro: passaram a usar o que não deveria ou como não deveriam. E um exemplo disto é o solidéu dentro das celebrações litúrgicas, sobre o qual nos deteremos a seguir.

Maximilian Heim
Dom Maximilian Heim, cisterciense, Abade de Santa Cruz (Heiligenkreuz, em alemão), Áustria
um prelado a quem desde o Código de Direito Canônico de 1917 permite o uso de solidéu, que é branco, cor de seu hábito monástico

A saber: o solidéu surge a partir do século X do costume de cobrir a cabeça e da diminuição das peças que serviram a isto: amito e o primitivo capuz do pluvial. Disto, nasceu o barrete. Mas, antes, o solidéu restou como o barrete primitivo, de desenho mole (Curso de Liturgia Romana, Dom António Coelho). Diz-se que seu nome é devido ao costume de só retirá-lo da cabeça “para Deus”, já que as rubricas dizem que os ministros devem estar descobertos na exposição do Santíssimo Sacramento, no início do prefácio do Cânon da Missa etc.

Talvez com o oportunista argumento “Ah, mas antigamente era assim”, popularizou-se o solidéu: seminaristas, frades e sacerdotes passaram a usá-lo nas celebrações. Todavia, nem mesmo no Código de Direito Canônico de 1917 é encontrada permissão para isto, antes, é proibida, salvo exceções de privilégio. Este Código, revogado na publicação do de 1983, era mais detalhado e não permitia restar muitas dúvidas, como o faz o atual e que, por isso, segundo canonistas, deverá ser reformulado em alguns trechos. E quem tinha privilégio? O Código delegou isto às normas particulares. Portanto, simples padre não poderia usar, nem diácono, nem muito menos seminarista.

Prelados abade bispo cardeal papa solidéu
Da esquerda para a direita: Abade, Bispo, Cardeal e Papa.
Os prelados a quem o Código de 1917, ordinariamente,
prevê o uso de solidéu nas celebrações litúrgicas, cuja cor segundo a sua dignidade


Outros podem dizer: “Mas, todos os judeus, ministros ou não, usavam-no”. Contudo, nós não somos judeus. E embora muito herdemos deles, o solidéu não corresponde em tudo ao kipah.

Salvam-se os hábitos religiosos que preveem o uso de solidéu próprio. Não obstante, uma coisa é seu uso no hábito religioso, outra coisa – e esta regida pelos livros litúrgicos – é um religioso usá-lo dentro das celebrações litúrgicas.

Por fim, o solidéu segue a cor do hábito religioso ou da veste talar: há religiosos de hábitos brancos, marrons e pretos, aos quais o solidéu acompanha em cor; sacerdotes [privilegiados] usam pretos; bispos, violáceos; cardeais, vermelhos; Papa, branco. Há solidéu preto com detalhes em cor seguindo a dignidade de quem o usa, por exemplo, preto com detalhes em linhas violáceas ou vermelhas, para monsenhores e bispos.

 

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