Direto da Sacristia
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As vestes litúrgicas

Postado em 02 março 2012por E. Marçal


Algumas pessoas pediram uma explicação sobre a origem e o significado das vestes litúrgicas. Há a clássica explicação que encontramos nos manuais, entretanto, achei por bem publicar aqui trechos de uma “aula” proferida pelo Santo Padre Bento XVI durante uma homilia na Missa Crismal (Missa da manhã da Quinta feira Santa) do ano de 2007.


Diáconos incensam altar durante o
Magnificat
das I Vésperas do I Domingo do Advento

“(…) na administração dos Sacramentos, o sacerdote age e fala agora “in persona Christi“. Nos sagrados mistérios ele não se representa a si mesmo e não fala expressando-se a si mesmo, mas fala pelo Outro, por Cristo. Assim nos Sacramentos torna-se visível de modo dramático o que significa em geral ser sacerdote; o que expressamos com o nosso ‘Adsum, estou pronto’, durante a consagração sacerdotal: eu estou aqui para que possas dispor de mim.

In persona Christi” no momento da Ordenação sacerdotal, a Igreja tornou-nos visível e alcançável esta realidade das “vestes novas” também externamente mediante o fato de termos sido revestidos com os paramentos litúrgicos. Neste gesto exterior ela deseja tornar-nos evidente o acontecimento interior e a tarefa que nos vem dele: revestir-nos de Cristo, entregar-nos a Ele como Ele se doou a nós. Este evento, o ‘revestir-se de Cristo’, é representado sempre de novo em cada Santa Missa mediante o revestir-nos dos paramentos litúrgicos. (…) O fato de estarmos no altar, vestidos com os paramentos litúrgicos, deve tornar claramente visível aos presentes e a nós próprios que estamos ali ‘na pessoa do Outro’. (…) Portanto, queridos irmãos, gostaria de explicar nesta Quinta-feira Santa a essência do ministério sacerdotal interpretando os paramentos litúrgicos”. (…)

O amito: Retângulo de tecido branco que o sacerdote coloca sobre os ombros e em torno do pescoço.

Sua Ex.cia Dom Fernando Rifan impõe-se o amito durante paramentação
para a celebração de Vésperas Solenes nos EUA 

“No passado e nas ordens monásticas ainda hoje ele era colocado primeiro sobre a cabeça, como uma espécie de capuz, tornando-se assim um símbolo da disciplina dos sentidos e do pensamento necessário para uma justa celebração da Santa Missa. Os pensamentos não devem vaguear aqui e ali por detrás das preocupações e das expectativas da vida quotidiana; (…) E o olhar do meu coração deve estar dirigido para o Senhor que está no meio de nós (…)”.

A alva e a estola: a alva é a veste branca que desce até os pés (veste talar). “E a veste comum aos ministros de qualquer grau” (Intrução Geral do Missal Romano). A estola é uma faixa de tecido da mesma cor da casula que o sacerdote trás em torno do pescoço deixando pender as pontas diante do peito. O Diácono usa a estola a tiracolo sobre o ombro esquerdo. A Estola simboliza a autoridade espiritual do sacerdote.

“Evocam a veste dominical que o pai ofereceu ao filho pródigo quando regressou a casa esfarrapado e sujo. Quando nos aproximamos da liturgia para agir na pessoa de Cristo todos nos apercebemos de quanto estamos longe d’Ele; quanta sujeira existe na nossa vida. Só Ele nos pode dar a veste dominical, tornar-nos dignos de presidir à sua mesa, de estar ao seu serviço. (…) Ao vestir a alva deveríamos recordar-nos: Ele sofreu também por mim. E só porque o seu amor é maior do que todos os meus pecados, posso representá-lo e ser testemunha da sua luz.

O cíngulo: o sacerdote cinge-se com o cíngulo, cordão branco, ou da cor dos paramentos. Símbolo da castidade e da luta contra as paixões desregradas. Estão representadas no cíngulo as cordas com as quais as mãos de Nosso Senhor Jesus Cristo foram amarradas.

Sacerdote impõe-se cíngulo

A casula (pequena casa): É a veste oficial do sacerdote. Na sua origem era um grande manto em forma de sino ou tenda com uma abertura para a cabeça. Com o passar do tempo foi sendo modificada até chegar na que atualmente é usada. Suas cores mudam de acordo com o tempo litúrgico.

Mons. João Clá 2005

“(…) [Simboliza] o jugo do Senhor que a nós sacerdotes foi imposto. E recorda a palavra de Jesus que nos convida a carregar o seu jugo e a aprender d’Ele, que é ‘manso e humilde de coração’ (Mt 11, 29).

“(…) Às vezes gostaríamos de dizer a Jesus: Senhor, o teu jugo não é minimamente leve. Aliás, é tremendamente pesado neste mundo. Mas olhando depois para Ele que carregou tudo que em si sentiu a obediência, a debilidade, o sofrimento, toda a escuridão, então estas nossas lamentações dissipam-se. O seu jugo é o de amar com Ele. Quanto mais amarmos, e com Ele nos tornarmos pessoas que amam, tanto mais leve se tornará para nós o seu jugo aparentemente pesado.

Nesta mesma homilia, o Santo Padre comentava: “Revestir-se com as vestes sacerdotais outrora acompanhava-se com as orações que nos ajudam a compreender melhor cada um dos elementos do ministério sacerdotal.” A seguir, disponibilizamos aos nossos leitores estas orações .

Enquanto se lava as mãos:

Da, Domine, virtutem manibus meis ad abstergendam omnem maculam, ut sine pollutione mentis e corporis valeam tibi servire.

“Ó Senhor, dai fortaleza às minhas mãos para limpá-las de toda a mancha, assim possa eu servir-Vos com pureza de mente e de corpo”.

Enquanto se põe o amito:

Impone, Domine, capiti meo galeam salutis, ad expugnandos diabolicos incursus.

“Imponde, ó Senhor, na minha cabeça o elmo da salvação, para me defender dos golpes do demônio”.

Enquanto se veste a alva:

Dealba me, Domine, et munda cor meum; ut, in sanguine Agni dealbatus, gaudiis perfruar sempiternis.

“Purificai-me, ó Senhor, e limpai meu coração para que, purificado pelo Sangue do Cordeiro, possa eu gozar da felicidade eterna”.

Enquanto se cinge com o cíngulo:

Præcinge me, Domine, cingulo puritatis, et extingue in lumbis meis humorem libidinis; ut maneat in me virtus continentiæ et castitatis.

“Cingi-me, ó Senhor, com o cíngulo da pureza e extingui meus desejos carnais, para que permaneçam em mim a continência e a castidade”.

Enquanto se põe a estola:

Redde mihi, Domine, stolam immortalitatis, quam perdidi in prævaricatione primi parentis; Et, quamvis indignus accedo ad tuum sacrum mysterium, mercar tamen gaudium sempiternum.

“Ó Senhor, restaurai em mim a estola da imortalidade, que perdi pela desobediência de meus primeiros pais, , indigno como sou de me aproximar e vossos sagrados mistérios, possa eu alcançar o gozo eterno”.

Enquanto o sacerdote veste a casula:

Domine, qui dixisti: jugum meum suave est et onus meum leve: fac, ut istud portare sic valeam, quod consequar tuam gratiam. Amen.

“Ó Senhor, que dissestes: ‘Meu jugo suave e meu peso é leve’, fazei que eu seja capaz de levar esta vestimenta dignamente para alcançar a vossa Graça. Amém “.

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