Como celebrar a Missa “versus Deum”
Vejam o Papa Francisco celebrando assim:
Na noite do último dia 05 de julho, em Londres, o Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, durante uma conferência do encontro Sacra Liturgia, disse: “Eu quero fazer um apelo a todos os sacerdotes”. E também: “E assim, querido Padres, peço-lhes para implementarem esta prática sempre for possível”. E continuou falando que a melhor implementação do Vaticano II na Liturgia, entre outros aspectos, é que todos se voltem para o Oriente, que na maioria das igrejas é o fundo destas. Para tanto, reconheceu que é necessária uma catequese sobre o significado de tal gesto, uma vez que muitos nos últimos 50 anos não o conhecem e não o entendem bem, mas que os pastores sabem que isto é bom para a Igreja e para o nosso povo.
Por que o Oriente
A arquitetura eclesiástica preocupou-se em construir as igrejas com o altar principal voltado para o Oriente, o lado nascente do sol, pois o Cântico Benedictus de Zacarias reza que Deus é “o sol nascente que nos veio visitar”. Na verdade, nos primeiros séculos a original liturgia romana já preocupava-se com essa orientação, mas de forma um pouco diversa: não o fundo mas a porta principal das igrejas era construída voltada para o Oriente. Por isso que igrejas verdadeiramente romanas, como a Basílica de São Pedro no Vaticano, hoje ou antigamente, sempre tiveram o Celebrante no altar principal voltado para o povo, mas, na verdade, voltado para o Oriente. Assim, a liturgia romana primitiva sempre teve o altar solto da parede.
Com o desenvolvimento arquitetônico, principalmente por terem corpos ou outras grandes relíquias de santos e possuírem mais decorações, os altares começaram a ser construídos no fundo das igrejas, presos à parede. A liturgia tridentina solidificou esse costume, embora sempre previsse a celebração também em altar no meio do presbitério, tal nas igrejas romanas, como foi dito há pouco.
Bento XVI, então Papa, reza Missa no altar antigo da Capela Paulina, no Palácio Apostólico Vaticano
16 de abril de 2016
Imagem: AFP Photo/Osservatore Romano
“Ao Orientem” ou “versus Deum” (“voltado para Deus”, do latim) não é somente um sentido litúrgico, como, obviamente, o altar é Cristo; ou um sentido antropológico, como alguns argumentam que a assembleia é Cristo. Sim, todos nós somos o Corpo de Cristo, que é a Igreja, mas tudo não é Cristo, porque isso é panteísmo. O sentido de voltarem-se todos para uma só direção é a tradição da Igreja e tem sentido teológico. Não é que todos fiquem em torno do altar, a menos que seja uma igreja genuinamente romana, na qual o Oriente é para o lado da porta principal.
Como celebrar a forma ordinária “ad Orientem” ou “versus Deum”
O Papa Francisco rezando a Missa do Batismo do Senhor de modo versus Deum
Créditos de imagem desconhecidos
O Cardeal Sarah também disse que o Papa Francisco em abril passado lhe pediu um estudo sobre a reforma litúrgica do Vaticano II e uma pesquisa do enriquecimento mútuo entre o rito antigo e a forma nova. Portanto, esse pedido do mesmo Cardeal já prepara a Igreja no mundo todo para o que, possivelmente, será feito futuramente na liturgia romana. Não é complicado; já vimos os Papas Bento XVI e Francisco fazendo assim no Vaticano:
Os ritos iniciais são comuns. O Celebrante beija o altar e, se houver incenso, incensa-o. Se o altar for separado da parede, caminha em torno dele; se não, incensa segundo o rito antigo, isto é, distribuindo o movimento do turíbulo entre a parte superior, as laterais e a frente do altar. Depois disso, volta-se para o povo e a Missa continua normalmente até a apresentação das ofertas.
Rubrica detalhada do Missal Romano de 1962, da forma antiga, que
complementa os detalhes que faltam ao Missal de Paulo VI quanto a esta incensação
Os vasos sagrados são colocados no altar sempre ao lado direito e o Missal Romano no lado esquerdo. Se houver incensação, ela é feita como no início da Missa, mas adicionando o próprio da incensação das ofertas. Voltado para o povo, o Celebrante diz: “Orai, irmãos e irmãs…” e continua a Missa. No diálogo do Prefácio não se volta para o povo, nem mesmo quando disser “O Senhor esteja convosco”. Durante a elevação do pão e do vinho consagrados, o Celebrante não se volta para a assembleia, mas ergue, por cada vez, a hóstia e o cálice acima de sua cabeça, de modo que eles sejam visíveis a todos que estão atrás dele.
O Papa Francisco rezando Missa de modo versus Deum no altar de São João Paulo II
Vaticano, 31 de outubro de 2013
Imagem: L’Osservatore Romano
Continua a Missa nessa orientação. O Celebrante volta-se para o povo quando disser: “A paz do Senhor esteja sempre convosco” e também quando apresentar a hóstia sobre a patena, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus”. Volta-se para o altar e comunga. Depois da purificação dos vasos, os ritos finais são feitos voltados para o povo.