Domus Heroum – O início
Conforme disse, hoje começo a magnífica história sobre o Seminário de Olinda. Conheçamos o motivo da doação por Dona Maria I, Rainha de Portugal, do antigo Colégio dos Jesuítas à Catedral de Olinda. Foi o princípio daquele seminário que seria, nos seus moldes, o único no Brasil e a ele seria imposto, com sábia justiça, o aposto de “Casa de heróis“.
Capítulo I
O início
Ad maiorem Dei gloriam
Brasão da Companhia de Jesus e Santo Inácio de Loyola, fundador
Para entender a fundação do venerando Seminário de Olinda, é preciso, antes, voltar um pouco no tempo. Antes mesmo do ano de sua fundação, 1800. Pois, antes disso, o prédio que se ergue no cume do Alto da Sé pertencia à Companhia de Jesus.
Ano de 1750. Os membros da Companhia de Jesus, fundada no contexto da Contra-reforma católica, estavam presentes em inúmeros reinos e suas colônias e a eles era confiada a expansão da doutrina cristã e a educação catequética dos nativos. Contrariamente ao costume luterano, pregavam as decorações e a ostentação em geral nas cerimônias litúrgicas, acentuando-as e financiando-as abundantemente. No Brasil, o primeiro grupo de seis missionários chegou em 1549, subordinado ao padre Manuel da Nóbrega. Cinquenta anos mais tarde, já tinham colégios pelo litoral, de Santa Catarina ao Ceará. Desenvolviam o cunho civilizador e a evangelização nos aldeamentos indígenas, desejando criar uma sociedade com os benefícios e qualidades da sociedade cristã europeia, mas isenta dos seus vícios e maldades.
Nos reinos católicos, a educação estava totalmente nas mãos dos jesuítas. Junto a isso, eles detinham grandes propriedades de terra, onde sediavam seus trabalhos. As primeiras lutas políticas com os monarcas iniciaram-se com disputas sobre território, e depois, começaram os desentendimentos comerciais. Portugal, França, as Duas Sicílias, Parma e o Império Espanhol se envolveram de uma forma ou de outra. Por fim, Luís XV da França suprimiu a Companhia de seu território em 1763; seguido da Áustria, das Duas Sicílias e da Espanha, em 1767. Essas cortes pressionaram o Papado para suprimir a Companhia em toda a Igreja, o que veio a ocorrer em 1773, com o Breve “Dominus ac Redemptor” de Clemente XIV.
Bula “Dominus ac Redemptor”
que suprimiu a Companhia de Jesus
Clemente XVI
da Ordem dos Frades Menores Conventuais
assinou a Bula de supressão
No Breve, de 45 parágrafos, o mencionado Papa introduz dizendo que “Nosso Senhor veio à terra como o Príncipe da Paz”. Continua, explicando que a missão de paz dada aos Apóstolos é o dever dos sucessores de Pedro, e trata-se uma responsabilidade do Papa incentivar as instituições que promovem a concórdia, eliminando outros, se necessário, que são um obstáculo para a paz. Se nem mesmo assim pensam os religiosos, o Romano Pontífice deve suprimir os que prejudicam as boas relações, por razões de harmonia na Igreja. Clemente XIV ainda fala dos motivos que chamam para a extinção da Companhia de Jesus: uma lista de acusações contra os jesuítas, apesar de contestada a sua validade; e o longo histórico de críticas que pesam contra eles, mas isso não implica em justificativas das mesmas. Em um parágrafo, o Papa sentencia a supressão da Companhia de Jesus, indica como isso deve proceder e exclui qualquer futura intervenção de algum membro da Hierarquia eclesiástica para modificar tal ordem. Os sacerdotes professos poderiam incardinar-se em outras ordens religiosas ou no clero secular. O mesmo não aconteceria aos irmãos não-ordenados.
Em Portugal e nas Cortes dos Bourbon, muitos jesuítas foram presos ou mesmo torturados, como o padre Gabriel Malagrida. Sem julgamento prévio, o superior-geral da Companhia, Lorenzo Ricci, e o seu Conselho, foi aprisionado no Castel Sant´Angelo, em Roma. Contudo, em alguns reinos, a decisão pontifícia não foi observada, como é o caso da Polônia, Prússia e Inglaterra. Na Rússia, liderada pela Igreja Ortodoxa, a czarina Catarina, a Grande, usou a ocasião para atrair membros da Companhia, grandes eruditos. Na altura do ato pontifício, os números da Companhia de Jesus resumiam-se em 39 províncias, 669 colégios, 237 casas de formação, 273 missões e 22589 membros.
No Brasil, o primeiro-ministro português, Marquês de Pombal, também influenciado por princípios iluministas, expulsou os jesuítas da metrópole e das colônias e confiscou os seus bens, alegando que eles agiam como um poder autônomo dentro do reino e acusou-os de regicídio.
O antigo Colégio dos Jesuítas de Olinda fechava as suas portas. Até que um bispo português recém-nomeado para a cátedra episcopal de Olinda, que se achava vacante, solicitou à Coroa portuguesa a doação do dito Colégio para a Santa Igreja Catedral, para que nele instalasse um seminário, segundo o molde e os decretos do Concílio de Trento. Nasceria o Seminário de Olinda, que viria a ser de singular fama no Brasil.
Até a próxima semana!