Direto da Sacristia
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O “Habemus Papam” terá voz italiana

Postado em 12 junho 2014por E. Marçal

O Protodiácono, as Ordens dos Cardeais e os processos de promoção

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A função mais conhecida e visionada do Cardeal-Protodiácono é o anúncio do novo Papa
Na imagem, o então Protodiácono Tauran anuncia a eleição de Jorge Bergoglio como Papa Francisco
© Getty Images

Protodiácono é o Cardeal-Diácono mais antigo segundo o dia e a precedência de sua criação cardinalícia. Quando o Papa anuncia os novos Cardeais que ele criará, ele o faz segundo uma ordem pré-determinada, com motivos próprios. Por exemplo, quis o Papa Francisco que Lorenzo Baldisseri fosse o prmeiro Cardeal-Diácono no anúncio do primeiro consistório de seu pontificado. Depois, o primeiro Cardeal-Presbítero deste consistório em 22 de fevereiro de 2014 foi Vincent Nichols, Arcebispo de Westminster (Inglaterra). Sendo assim, cada consistório tem seus Cardeais mais antigos em cada uma das 3 Ordens Cardinalícias, contudo, para ser o mais antigo de uma Ordem, prevalece o mais antigo prelado vivo naquela Ordem.

Isto acontece porque o próprio Colégio Cardinalício é dividido em três Ordens, segundo as origens destes prelados, membros do Clero de Roma, nas funções que desempenhavam na Cidade. Os cardeais-diáconos recebem simbolicamente antigas igrejas de Roma que eram confiadas aos diáconos, que no início da Igreja tiveram grande destaque principalmente nas obras de caridades. Os cardeais-presbíteros eram os sacerdotes de Roma e hoje, normalmente, são os Arcebispos de grandes dioceses que integram o Colégio. E, por fim, a mais nobre Ordem, a dos Bispos, recebem simbolicamente as catedrais das 6 dioceses suburbicárias (ao redor) de Roma, que remontam aos primeiros séculos, mas não as governam, pois elas possuem bispos diocesanos próprios. Contudo, com o apoio do Concílio Vaticano II, também os Patriarcas orientais são criados Cardeais-Bispos, mas não recebem igrejas latinas, permanecendo, portanto, com as suas igrejas catedrais como título.

Il-Papa-si-dimetteMetade dos Cardeais-Diáconos, num total de 30 nas três Ordens Cardinalícias,
criados por João Paulo II no consistório de setembro de 2003

 

Um Cardeal pode ou não permanecer até a sua morte na Ordem Cardinalícia na qual foi inscrito. Os Cardeais-Bispos latinos são os cardeais-chefes dos principais dicastérios da Cúria Romana. Portanto, ainda que algum chefe tenha ingressado no Colégio por outra Ordem (o que é mais normal e comum), vagando um lugar entre os Cardeais-Bispos, ele pode ser promovido.

Há outro processo de ascensão no Colégio mais comum: Optatio, do latim, “Opção”. Evidentemente no termo, significa que um Cardeal-Diácono tem a livre escolha, o direito de pedir para ser promovido à Ordem seguinte, a dos Presbíteros. Contudo, somente após 10 anos de sua criação cardinalícia.

As primeiras Optationes do pontificado do Papa Francisco e o novo Protodiácono

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O Cardeal Tauran é membro do serviço diplomático da Santa Sé
e, enquanto era o Cardeal-Diácono mais antigo, ocupava a função de Protodiácono.
Em março de 2013, anunciou pela primeira e única vez a eleição de um novo Papa,
mas com claros sinais do Mal de Parkinson do qual padece desde 2012,
quando desmaiou concelebrando a Missa de Páscoa com Bento XVI

Os mais antigos Cardeais-Diáconos são os criados por João Paulo II no consistório de 2003 e, deles, o Cardeal Tauran foi o primeiro nomeado da lista. Onze foram criados Cardeais-Diáconos em 28 de setembro de 2003. Portanto, passaram-se pouco mais de 10 anos e lhes assistiu o direito da Optatio.  O rito ocorre durante um consistório (reunião de cardeais com o Papa) para o voto das causas de canonização. O último fora o do voto para a canonização de João XXIII e João Paulo II, em 30 de setembro. Hoje, 12 de junho, no primeiro consistório após vigorar o direito da Optatio.

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O Cardeal Martino, novo Protodiácono, tem 81 anos e já serviu nas Nunciaturas da Santa Sé
no Brasil, Nicáragua, Tailândia, Singapura e Malásia, sendo inclusive Núncio em algumas delas

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O Cardeal Martino saúda o Papa Francisco, cujo sucessor ele anunciará do balcão central da Basílica de São Pedro no Vaticano
© Radio Vaticano

Portanto, tendo 6 Cardeais-Diáconos (5 morreram) de 2003 pedido para acender à Ordem dos Presbíteros, e, entre eles, o então Protodiácono Jean-Louis Tauran, a antiguidade na Ordem dos Diáconos passou o Cardeal Martino, que não solicitou a sua promoção à Ordem dos Presbíteros e, com 81 anos, já não é mais eleitor papal, mas pode receber votos em conclave.

Os Cardeais-Diáconos que solicitaram a ascensão à Ordem dos Presbíteros não mudam de igrejas (chamadas de “diaconias”) para as quais foram nomeados quando de sua criação cardinalícia. Ao contrário, as suas diaconias são chamadas títulos presbiterais pro hac vice (“por enquanto”, do latim) durante o tempo que eles as ocuparem.

As funções do Protodiácono são anunciar o nome do novo Papa e impor a ele o pálio pastoral no início da Missa de inauguração do pontificado.

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Mais fotos da celebração do consistório de hoje, reunião de Cardeais com o Papa para decidir a canonização de Beatos e atualizações do Colégio Cardinalício, como a Optatio:

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O Cardeal Amato, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos,
lê ao Papa Francisco e aos Cardeais residentes em Roma e reunidos em consistório
os nomes dos 6 beatos cuja canonização foi aprovada para o dia 23 de novembro de 2014
© Radio Vaticano

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Mons. Guido Marini, Mestre das Celebrações Pontifícias, anuncia aos presentes
o rito de
Optatio de 6 Cardeais-Diáconos para a Ordem Cardinalícia dos Presbíteros
© Radio Vaticano

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O Cardeal Tauran saúda o Papa Francisco, de quem anunciou sua eleição em 2013
e agradece a sua promoção a Cardeal-Presbítero
© Radio Vaticano

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