Domus Heroum – Um seminário tridentino
Depois da supressão dos Jesuítas pelo Papa Clemente XIV e a expulsão da Sociedade de Jesus de vários reinos, entre eles o de Portugal, o antigo Colégio em Olinda estava desativado. Vacante a cátedra episcopal de Olinda, para ela foi eleito Azeredo Coutinho que, entre outros interesses, desejava instalar aqui um seminário segundo os decretos do Concílio de Trento e que, no seu modelo, seria o único no Brasil.
A nomeação de Dom Azeredo Coutinho
Um seminário tridentino
Papa Pio VI
nomeou Dom Azeredo Coutinho
como Bispo de Olinda
Dona Maria I Rainha de Portugal
Doadora, por meio do Príncipe-regente,
do antigo Colégio dos Jesuítas ao Bispado de Olinda
Carta de doação da Rainha de Portugal
do antigo Colégio dos Jesuítas
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por graça de Deus, Rainha de Portugal
e dos Algarves; deste e daquele Mar em África,
Senhora de Guiné, Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia etc, etc.
E que achando-se o mencionado Colégio, Igreja, alfaias e cerca sem que lhe houvesse dado até ao presente destino ou aplicação alguma; e não se lhe podendo dar outra melhor e mais própria, que a de ser aplicado para um seminário de educação da mocidade, sem a qual se não podem criar sujeitos hábeis para desempenharem os Ministérios e Obrigações do Sacerdócio e do Império, ele pedia – o mesmo Reverendo Bispo, fosse Eu servida fazer doação do dito Colégio, Igreja, com todas as suas alfaias e cerca, à Igreja Catedral do Bispado de Pernambuco, para nele se estabelecer o referido Seminário na forma que se acha determinado pelo Santo Concílio de Trento, recomendado pelas Bulas da criação do mesmo Bispado e lembrando nas da confirmação do Reverendo Bispo.
Ao que tendo consideração e desejando com toda a eficácia concorrer para o bem e aumento espiritual da Igreja, e para a utilidade pública dos Meus fiéis vassalos, conformando-Me com as mencionadas Bulas Apostólicas: Hei por bem e Me alegra fazer pura, livre, perpétua e irrevogável doação à Santa Igreja Catedral de Pernambuco, do Colégio, Igreja – com todas as suas alfaias e cercas, que foram dos referidos e extintos Jesuítas e se acham no Meu Real Fisco, para que no mesmo Colégio se estabeleça o Seminário Episcopal, na forma suplicada pelo sobredito Reverendo Bispo etc, etc…
Dado no Palácio de Queluz, aos 22 dias do mês de março do Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1796.
Seguem-se as assinaturas.
Vista do Seminário de Olinda
Ao fundo, a cidade do Recife
Um dos primeiros cuidados do prelado foram os trabalhos necessários à instalação do Seminário. Por esforços do Bispo, o pagamento dos professores do Seminário viria dos cofres públicos; para ainda a sua manutenção, será cobrado um imposto anual sobre todas as pessoas da diocese, acima de doze anos. Quanto ao estudo, a Carta Régia de 13 abril 1798 do Governador da Capitania autorizara a transferência de alguns cursos do Recife para o Seminário. Depois de convenientemente reparado o velho edifício do Colégio, e feitas as acomodações necessárias à instalação do Seminário, realizou-se esta com solenidade e aparato no dia 16 fevereiro 1800, com trinta e dois estudantes sob a direção do reitor Cônego Dr. José de Almeida Nobre, que fora professo da Sociedade dos Jesuítas, e do Vice-reitor Pe. José Pinto de Carvalho.
Pelo programa dos estudos superiores sediados no Seminário, Olinda foi transformada em uma nova Coimbra, em referência ao status da universidade portuguesa. Da sede do Reino, entre outros, foram trazidos sacerdotes de Teologia Dogmática, Teologia Moral, Filosofia universal e Matemática. Por esse motivo, vários escritores da época teceram grandes elogios ao ilustre Bispo. Do estabelecimento, dizia um viajante que o visitou em 1808: “O Seminário é talvez o melhor que temo no Brasil, não pelo edifício, que todavia está reedificado e tem uma cerca, mas pela ordem e economia, não só ao que se refere à educação ingênua e liberal, mas, principalmente, à educação científica… Não há número certo de seminaristas, e cada um paga anualmente uma pensão. Além das aulas de belas-artes, tem ainda as de todas as ciências que podem formar um bom cidadão e um eclesiástico instruído; os seus professores se fazem dignos do conceito público de que gozam pelos seus notáveis conhecimentos, e o reitor é um homem sábio, vigilante e incansável”.
Divina inspiração a do sábio bispo Azeredo Coutinho. Não por acaso que daqui saíram homens célebres que, ordenados ao estado eclesiástico, iluminaram a Igreja nestas terras brasileiras. Não foram inúteis os esforços do venerando prelado e a semente que ele plantou nesse cume de Olinda. Semente que ele – por pouco tempo – viu crescer. Pouco tempo de seu governo no Bispado, ele recebeu a comunicação que um sucessor seu na cátedra de Olinda já estava eleito. O incomum era que o Bispo de Pernambuco nunca esteve ciente do processo.