Direto da Sacristia
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E Ars nunca mais foi a mesma…

Postado em 04 agosto 2010por E. Marçal

 

O jovem pastor de dezesseis anos, Antoine Givre, naquele entardecer guardava as ovelhas como em qualquer outro dia. Era 9 de fevereiro de 1818. A noite já começava a cair, quando ele ouviu um barulho vindo do lado da estrada de Lyon e avistou um padre, que vinha acompanhado por uma velha e uma carriola vacilante carregada de fardos. O padre aproximou-se do pequeno pastor e perguntou-lhe se Ars ainda estava distante. Antoine apontou para o povoado que se escondia no crepúsculo. “Como é pequeno!”, murmurou o padre. Ele ajoelhou-se, rezou por um longo silêncio, de olhos fixos nas casas. Ao levantar-se, olhou para o pastorzinho e, com voz muito simples, disse: “Tu mostraste-me o caminho de Ars… Um dia hei de mostrar-te o caminho do Céu”. E retomou a marcha para aquela cidadezinha que, mesmo não contando mais de duzentas almas e subordinada à paróquia Misérieux, da diocese de Lyon, se tornaria conhecida no mundo inteiro pela santidade do seu agora novo cura. Chamava-se Jean-Marie Vianney.

O resto da história, nós já o sabemos. Em muitos púlpitos destaca-se que o santo que comemoramos hoje era de mínimo rigor intelectual e que isso foi a causa de ele quase não ser ordenado sacerdote. Um dia, no seminário menor, o padre reitor frisou algo que eu nunca ouvira e que nunca havia parado para pensar: muitos sempre detêm-se em falar que o Cura d´Ars não era provido de uma sabedoria informidável, mas esquecem que ele foi capaz de falar altos tratados teológicos em simples palavras, acessíveis ao povo; e que a sua simplicidade e convicção no exercício do ministério sacerdotal foi o que mudou a vida, converteu os costumes e revigorou a fé dos aldeões de Ars. Ele alcançou uma santidade no confessionário: santificando-se e santificando seus paroquianos. Provou que para ser um padre fiel e anunciar o Evangelho não é preciso ser um showman que vai à televisão. Pois “a comunicação deve favorecer a comunhão da Igreja que, do contrário, converte-se em protagonismo individual ou, o que é mais grave, introduz divisão” (Mons. Mauro Piacenza, secretário da Congregação para o Clero). Para ser um bom padre é, urgente antes de tudo, a solicitude pela salvação das almas, amor a Deus e de Deus. Tal como o fez o Santo Cura.

São João Maria Vianney não fez coisas extraordinárias ou promoção pessoal. Mostrou o caminho do céu, como havia prometido ao jovem pastor. Que todos os sacerdotes também possam mostrar a nós o caminho para a eternidade. Apesar de não ter sido proclamado patrono de todos os presbíteros, a todos eles, párocos ou não, este santo francês ainda constitui-se um formidável modelo.

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