Direto da Sacristia
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Pode-se usar o termo “Javé” na Liturgia?

Postado em 02 maio 2012por E. Marçal

Negative.


Em 2008, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, presidida pelo então Prefeito o Cardeal Francis Arinze, enviou uma carta a todas as conferências episcopais sobre o nome de Deus, na qual pediu que não se use o termo “Javé” nas liturgias, orações e cantos. A carta se referiu ao uso do nome “YHWH”, relacionado a Deus no Antigo Testamento e em português se lê “Javé”.

O texto explicou que este termo deve ser traduzido de acordo ao equivalente hebraico “Adonai” ou ao grego “Kyrios”; e pos como exemplos traduções aceitáveis em 5 idiomas: Lord (inglês), Signore (italiano), Seigneur (francês), e Señor (espanhol).

Após comentar que o nome de Deus exige dos tradutores um grande respeito, o Cardeal explicou que a palavra “YHWH” é “uma expressão da infinita grandeza e majestade de Deus”, que se manteve “impronunciável” e por isso foi substituída na leitura das Sagradas Escrituras com o uso da palavra alternativa “Adonai”, que significa “Senhor”.

Esta tradição da tradução é importante para entender Cristo, assinalou a carta vaticana, já que o título de “Senhor” torna-se “intercambiável entre o Deus de Israel e o Messias da fé cristã”. “As palavras das Escrituras contidas no Antigo e Novo Testamento expressam a verdade que transcende os limites do tempo e do espaço; são a palavra de Deus expressada em palavras humanas, e por meio destas palavras de vida, o Espírito Santo introduz os fiéis no conhecimento da verdade total. Por isso, a palavra de Cristo aparece diante dos fiéis em toda a sua riqueza”, explicou a indicação da Santa Sé.


O termo “Javé” foi relido nas últimas décadas e interpretado segundo uma visão sócio-teológica. Em meio às passadas revoluções contra os governos totalitários na Europa e na América Latina, enquanto o povo sofria graves necessidades e era repreendido quando protestava e pedia mudanças, muitos teólogos visualizaram neste quadro o sofrimento dos hebreus na escravidão do Egito, no êxodo e na conquista da Terra Prometida, e influenciaram o pensamento da época que foi sintetizado em inúmeras canções “litúrgicas” e ensinado aos que padeciam com as ditaduras, na esperança que também eles um dia, ainda nesta vida, seriam libertos de tudo o que os oprimia e teriam, enfim, o mundo que lhes era de direito. Portanto, o “Deus todo-poderoso e misericordioso” presente nas traduções litúrgicas, foi “traduzido” pelo “Javé, Deus dos exércitos” que marchava à frente do povo e lutava contra os “ditadores”.

Quem nunca ouviu canções como essas: “Santo, Santo é. Santo, Santo é, Deus do universo, ó Senhor Javé”; “Escuta, Israel, Javé, teu Deus, vai falar”?

O problema de muitas canções é ou apresentar um nome “novo” de Deus, contra aqueles termos que por séculos foram usados na Liturgia, ou relacionar ao termo “Javé” letras de canções com desejos empíricos, de mudanças sociais que não transcendem essa vida: moradia, comida etc.; que nos são, inegavelmente, necessários, mas que não foram lembrados juntos de valores religiosos como a luta contra o pecado, a fidelidade a Deus, a prática autêntica e frequente da fé, e outros. Com uma sólida catequese, tudo pode ser melhor compreendido, erros serem corrigidos, e abandonar “teologias” obsoletas, nascidas em tempos que não são mais os nossos e que, por esses e outros motivos, não respondem mais aos nossos desafios.

Há letras de outras canções belíssimas que exaltam o Nome litúrgico de Deus, apesar de não se “esquecerem” de nossas necessidades materiais e, sobretudo, espirituais, pois, “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?” (Mc 8, 36).

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