Direto da Sacristia
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Paulo VI, celibato sacerdotal e bispos brasileiros

Postado em 24 janeiro 2011por E. Marçal

Do Instituto Humanitas Unisinos

O Papa do Vaticano II vetou pedido de bispos brasileiros

Foi divulgado pelos Arquivos Secretos do Vaticano que, na última sessão do Concílio Vaticano II, em 1965, bispos brasileiros apresentaram propostas sobre o celibato sacerdotal e o controle de natalidade. Contudo, os textos não foram transcritos nas atas da reunião, como normalmente acontecia, porque o papa Paulo VI proibiu a discussão dos temas. A apresentação da cópia dos textos configura-se uma surpresa, pois, conforme um livro do teólogo e historiador padre José Oscar Beozzo, os documentos estavam perdidos.

Dom Francisco Austregésilo de Mesquita
Bispo emérito de Afogados da Ingazeira (Pernambuco)
Falecido em 2007


As intervenções depositadas no Secretariado do Concílio partiram de Dom Pedro Paulo Koop, então bispo de Lins (São Paulo), e de Dom Francisco Austregésilo de Mesquita, então bispo de Afogados da Ingazeira (Pernambuco), sugerindo a ordenação sacerdotal ministrada a homens casados para suprir os baixos índices do clero brasileiro.

O texto do bispo de Lins que pedia a ordenação de homens casados vazou para a imprensa ao ser publicado pelo jornal francês Le Monde, em 12 outubro 1965. Talvez, isso aconteceu pelo fato de ele ter entregue cópias em latim da proposta a outros participantes da reunião. Em pouco tempo, viu seu texto publicado em francês. No Colégio Pio Brasileiro, onde parte dos bispos ficou hospedado, Dom Pedro Paulo foi acusado, em reunião da Conferência Episcopal do Brasil, de envergonhar o episcopado brasileiro.

Paulo VI é aclamado na sedia gestatoria


O bispo de Afogados da Ingazeira, que ecoou o pedido da ordenação de homens casados e saiu em defesa de Dom Pedro Paulo, confessou mais tarde, em entrevista a padre Beozzo, ter ficado profundamente envergonhado com o veto de Paulo VI. “Até hoje, não consigo engolir que o papa impediu-me de tratar três assuntos: celibato, paternidade responsável (pílula) e divórcio”, declarou o bispo.

Padres conciliares no Vaticano II

Paulo VI interveio ao saber que alguns padres conciliares (bispos participantes do Concílio) tinham a intenção de tratar o celibato eclesiástico. Dando sua opinião pessoal, logo interpretada como uma ordem, o papa advertiu que não seria oportuno debater publicamente o tema. Portanto, os bispos foram convidados a entregar suas intervenções por escrito.

 

Cardeal Aloísio Lorscheider
Arcebispo emérito de Aparecida (São Paulo)
Falecido em 2008


Certo. O assunto foi encerrado no Concílio. Mas, isso não impediu que no Sínodo dos Bispos de 1971, o então secretário da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Aloísio Lorscheider levantasse novamente a questão, depois de a assembleia-geral do episcopado brasileiro em 1969 ter aprovado, por dois terços dos votos, que o pedido de ordenação de homens casados fosse encaminhado à Santa Sé. A Secretaria de Estado solicitou à delegação brasileira no Sínodo que não tocasse no tema, porque o papa ficaria triste. Lorscheider levou a questão adiante, mas Roma não cedeu.

Cardeal Cañizares oficia ordenação sacerdotal
na forma extraordinária do Rito Romano

Mais uma vez, no Sínodo de 1990, Dom Valfredo Tepe, bispo de Ilhéus (Bahia), voltou a falar em nome da conferência episcopal do Brasil, solicitando a ordenação de homens casados. Entre outros argumentos, Tepe lembrou que no Brasil havia paróquia de 50 mil até 100 mil habitantes, o que exigia de muitos dos padres celebrar cinco ou mais missas aos domingos. “Trabalham sob estresse e se sentem frustrados porque não conseguem, de forma adequada, assistir pastoralmente as próprias comunidades”, afirmou o bispo. Dom Aloísio Lorscheider, que havia sido criado cardeal em 1976, reforçou a proposta ao defendê-la novamente. E, novamente, o Vaticano não cedeu.

Por último, centenas de presbíteros brasileiros reunidos em Itaici (São Paulo) em 2008, redigiram o mesmo pedido, ademais que sacerdotes com dispensa do exercício do ministério fossem readmitidos. A proposta foi descartada na versão final do documento enviado a Roma, o que não impediu, todavia, que fosse tornada pública.

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