A solene abertura
[11 outubro 1962]
Com a presença de todo o clero secular e regular da Urbe, formando ala ao imponente cortejo do Episcopado do mundo inteiro, na presença de várias centenas de milhares de espectadores diretos e de milhões de telespectadores da Europa e da América, ao som festivo dos sinos de Roma e dos sinos de todas as nações do mundo, num ambiente de intensa comoção espiritual e de grande entusiasmo, após fervorosa novena ao Divino Espírito Santo na qual participou toda a população católica do globo, inaugurou-se solenemente, nesta manhã do dia 11 de outubro de 1962, Festa da Maternidade Divina de Maria Santíssima, na Patriarcal Basílica de São Pedro, no Vaticano, o XXI Concílio Ecumênico, chamado Vaticano II, o Concílio mais ecumênico da história da Igreja.
Revestidos de pluviais e mitras, os Bispos católicos assim estiveram presentes
à Missa de abertura do Vaticano II e durante a primeira Sessão Pública
Segundo o programa previsto, 2.540 Padres Conciliares reuniram-se às 8h30 no Vaticano para se paramentarem.Os Cardeais na Sala nº11 dos Apartamentos Borja; os Patriarcas na Sala nº1; os Arcebispos, Bispos e Abades no corredor vizinho. Depois dirigiram-se todos para a Sala Ducal, exceto os Cardeais, dispondo-se ordenadamente em fila para a grande procissão. Na Sala dos Paramentos, o Sumo Pontífice, assistido pelos Cardeais e dignitários da corte papal, revestiu-se dos paramentos sagrados e, acompanhado por todo o Colégio Cardinalício, encaminhou-se para a Capela Paulina. Após a adoração ao Santíssimo Sacramento exposto, o Sumo Pontífice entoou o hino Ave, Maris Stella, que foi cantado pelo coro. Depois da primeira estrofe, levantaram-se todos e a procissão pôs-se em movimento em direção à Basílica de São Pedro.
Solene e imponente procissão! 2.540 Bispos, provenientes de todos os continentes, representantes de todas as raças e de todas as cores. Longas filas majestosas no hieratismo das mitras e das capas brancas, deslocando-se por entre o clero e os fiéis para a grande Assembleia Conciliar, imagem viva da unidade e da vitalidade da Igreja de Cristo no mundo de hoje.
Entrando na Basílica, os Padres Conciliares descobriam-se, inclinavam-se diante do altar central e ocupavam os respectivos lugares, esperando de pé a entrada do Santo Padre. Ao entrar na Basílica, o Papa desce da cadeira gestatória, descobre-se e se ajoelha no faldistório junto do altar e entoa o Veni, Creator Spiritus. Terminado o hino e ditas as orações, teve lugar a celebração do Santo Sacrifício da Missa em honra do Espírito Santo. Observou-se durante a missa o rito das solenes cerimônias papais, omitindo-se, porém, o ato de obediência por parte dos Cardeais e a homilia depois do evangelho.
Após a missa, teve início a primeira Sessão do Concílio. O Secretário-geral, com a cabeça descoberta e acompanhado por um grupo de acólitos, entronizou solenemente o Santo Evangelho na Aula (n.e. Sala) Conciliar, depositando-o num trono propositalmente preparado sobre o altar conciliar. Durante este tempo, o Santo Padre paramentou-se pontificalmente para o supremo exercício de sua autoridade. Teve, então, lugar a cerimônia de Obediência dos Padres Conciliares. Todos os Cardeais e Patriarcas beijam a mão do Santo Padre. A seguir, dois Arcebispos e dois Bispos, representantes de todos os presentes, beijam o joelho direito do Sumo Pontífice. Finalmente, dois Abades e dois Superiores-gerais de Ordens religiosas, prostrando-se diante do trono papal, beijam o pé direito do Santo Padre. O último a prestar obediência ao Sumo Pontífice foi o Secretário-geral do Concílio.
Terminada a Obediência dos Padres Conciliares, procedeu-se à Profissão de Fé. O Santo Padre ajoelhou-se no faldistório e, descoberto, pronunciou a solene Profissão de Fé, retornando depois ao trono. O Secretário-geral, então, leu para todos, em voz alta, a fórmula do juramento, cuja conclusão os Padres Conciliares pronunciaram todos juntos, com a mão direita sobre o peito e depois a subscreveram.
Seguiram-se as preces especiais, próprias para o início dos Concílios: Adsumus, Domine, a antífona Exaudi nos, Domine e a oração Mentes nostras. Foram cantadas imediatamente após as Ladainhas de Todos os Santos, com a invocação especial “ut hanc synodum benedicere… digneris”. Depois da oração Da quaesumus, cantou-se o Evangelho em latim e em grego, cerimônia que manifesta a unidade da Igreja e da fé na variedade dos ritos e das línguas. Seguiu-se uma súplica em rito oriental, tirada dos mais antigos textos litúrgicos do Oriente,com invitatório, ladainhas e antífonas e com uma oração final que foi cantada em grego pelo Santo Padre.
Encerrando o solene ato, o Papa proferiu do trono papal a Alocução de abertura do Concílio, que pode ser considerada como o programa de trabalho do Vaticano II. O Papa lembra a importância dos Concílios Ecumênicos na história da Igreja; analisa a origem, causas e oportunidade da celebração deste novo Concílio; indica claramente sua finalidade primordial: defesa e valorização da verdade, renovação espiritual da Igreja, adaptação de sua estrutura e de seus métodos de ação às exigências do presente; chama a atenção para a maneira de difundir a verdade e reprimir os erros, para a necessidade de promover a união da família cristã e de toda a família humana em Cristo. Depois da alocução, o Papa deu a Bênção Apostólica. Lida a fórmula de concessão da indulgência, o Secretário do Concílio, com o Evangelho nas mãos, anunciou aos presentes que a primeira Congregação Geral se efetuaria no sábado próximo, às 9 horas.
Frei Boaventura Kloppenburg, teólogo conciliar