Direto da Sacristia
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Dedicação da Catedral de Roma

Postado em 09 novembro 2010por E. Marçal


Texto do seminarista Carlos Donato, da Arquidiocese da Paraíba
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Ofício do dia: Dedicação da Basílica do Latrão



Os braços de um rio vem trazer alegria

à cidade de Deus, à morada do Altíssimo

Aspecto geral das fachadas da Basílica do Latrão e seu Palácio anexo.

Celebramos em comunhão com a Igreja de Roma a festa da dedicação da Arquibasílica do Santíssimo Salvador e dos santos João Batista e Evangelista, Arquicatedral de Roma e do mundo, como lê-se escrito na faixada da mesma, “Sancta Archibasilica Catedralis Lateranensis, Urbis et Orbis ecclesiarum Mater et Caput” – Santa Arquibasílica Catedral do Latrão, Mãe e Cabeça de todas as Igrejas da Cidade e do mundo. Todos nós fomos espiritualmente batizados na catedral lateranense pois, espiritualmente toda e qualquer igreja é parte desta patriarcal basílica. Somos todos feitos filhos de Deus na pia octagonal do Santíssimo Salvador do Latrão.

Ábside da Catedral de Roma
ao fundo, a cátedra do Romano Pontífice

Julgamento postem mortem do Papa Formoso
Catedral do Latrão
janeiro de 897

A história e construção desta patriarcal basílica é bela e diversificada. Nasce como primeiro local oficial de culto no Império Romano, doação do Imperador o Augustus Constantinus. Seu formato era de cinco naves, sendo a nave principal maior e mais ampla das demais; ao fundo, na ábside do presbitério, encontra-se a Cátedra de Pedro e dos Romanos Pontífices, seus sucessores; o coro e o belíssimo mosaico bizantino da época imperial. Suas portas vêm da Cúria Iulia da “Via Sacra Imperialis”, do forro romano. Foi palco de muitíssimos atos importantes e oficiais. Nela foram celebrados os concílios lateranenses; foi fruto do sonho profético de São Francisco de Assim; e tambem é testemunha do julgamento postem mortem do papa Formoso.

Porta Santa do Latrão
aberta nas comemorações dos Anos Santos

Apesar de os olhos hodiernos voltarem-se sempre à patriarcal Basílica Vaticana, sobre o túmulo de Pedro, há quem pense que ela seja a Sé Romana; porém, a a catedral e a mais importante igreja romana é a do Santíssimo Salvador do Latrao, pois ali está a cátedra de Pedro; neste local o papa, Bispo de Roma, preside, seja a Igreja particular da Urbi, seja a Igreja Universal. As cerimônias diocesanas presididas por direito e dever pelo bispo diocesano são realizadas na Sé Apostólica de Roma: a cerimônia do Lava-pés, a procissão de Corpus Christi, a tomada de posse da Diocese de Roma, o encontro com o Clero da Urbi, a visita ao seminário diocesano de Roma e algumas proclamações dogmáticas.

Palácio do Latrão, anexo à Patriarcal Basílica

Loggia central

Durante séculos esta arquibasílica abrigou no palácio anexo, a “Domus Papae”, residência papal e, depois do Quirinale, se torna residência de verã. Até o ano de 1870, quando reinava o beato Pio IX, a cidade de Roma foi tomada por causa da brecha da porta Pia e ocorreu o fim dos Estado Pontifícios, feito o papa prisioneiro do Reino de Itália, passando a residir no Palácio Apostólico do Vaticano. Durante o Reino da casa de Savoia, entre os prédios ursupados pela casa real, foi o Palácio Apostólico do Quirinale tornado residência da família real. Neste contexto – o papa prisioneiro no Vaticano, não podendo sair do mesmo –, a catedral do Santíssimo Salvador passa por anos escuros, sem ofício catedralício, sem as cerimônias pontificais oficializadas pelo seu bispo diocesano; ela não viu a entronização dos Santos Padres Leão XIII, Pio X, Bento XV e Pio XI.
Com o Pacto Lateranense, entre a Santa Sé e o governo de Itália, este reconheceu o poder temporal do papa sobre a cidade-Estado do Vaticano – nascida deste pacto – e as zonas extraterritoriais da Santa Sé: as quatro basílicas papais com os prédios adjacentes; a cidade papal de Castel Gandolfo, o Palácio de San Calisto e outros prédios pertencentes a Sé de Pedro. Com o fim desse mal político-religioso, a Catedral do Santíssimo Salvador viu o retorno do seu esplendor com a visita e entronização papal de Pio XI, quando, pela primeira vez depois da unidade da Itália, foi dada a benção Urbi et Orbi da loggia central da sua Cateral.

Interior da Catedral de Roma

Antigo desenho de seu interior

Ao entrar na Sé de Roma, se percebe a beleza e o esplendor barroco da sua atual forma. Em resguardo à dedicação, não encontramos as cruzes da mesma, pois tal catedral foi pensada de forma que ao entramos nos deparemos com a Gerusalemme del Cielo, pois os fundamentos basilicais, onde estariam as cruzes, são os ninchos com as imagens dos Apóstolos, que iluminam a Igreja com o seu ensinamento. O olhar apoiado pelos mosaicos do piso e a sombra dos Apóstolos chega a deparar-se com o altar e seu espetacular baldaquino gótico que o protege – único altar dedicado sem as relíquias dos mártires, pois dentro do mármore pode-se ver a mesa de madeira usada por São Pedro para celebrar a Eucaristia. Sobre o altar estão as relíquias das testas de Pedro e Paulo, de cujo sangue nasceu a Igreja Romana.

Scala Sancta
segundo a tradição, ela pertencia à casa de Pôncio Pilatos
e o Divino Salvador a percorreu durante o seu julgamento

somente de joelhos é permitido cruzá-la

Após sermos conduzidos pelos Apóstolos à Eucaristia, vemos o belíssimo mosaico do Salvador e sua cruz gloriosa, sinal de vitória e vida: “In hoc Signo vincis”. E debaixo da cruz gloriosa, presidindo o presbitério, esta a Cátedra dos Sucessores de Pedro, a Cátedra Romana, sinal de unidade de toda a Cristandade, lugar de ensinamento e de autoridade que provêm da Cruz e culminam com a celebração da Eucaristia, memorial incruento da cruenta aliança sacrifical que venceu para sempre a morte e o pecado. Daquela cátedra marmória, Pedro continua a ensinar e conduzir o rebanho, fiel a ordem do Senhor: “Pasce agnos mei, pasce oves mei”.

É de unidade o sentido de celebrarmos a dedicação desta Santa Sé Apostólica de Pedro. Alimentados pelo único pão eucarístico, formados no ensinamento do Senhor e confirmados por Pedro, formamo-nos à Jerusalém que caminha para a Cidade do céu. De cuja imagem encontramos na Igreja catedral de cada diocese, que representa em meio aos fiéis da igreja local a unidade espiritual, afetiva e efetiva con a Sé Apostólica.

Aproveitemos para reforçarmos a fé em Cristo Senhor que não deixa o santuario sem ministros, que reparte os carismas e os ministros em graus e dignidades. Rezemos pelo Arcebispo de Roma, Metropolita do Lacio, Primaz da Itália, Sucessor do Apóstolo Pedro, Vigário de Cristo, Soberano da Cidade do Estado do Vaticano, Servo dos servos de Deus, Senhor e Papa nosso Bento XVI, gloriosamente reinante. Que o Senhor o faça feliz na terra e não o entregue à fúria dos seus inimigos.

Cum Petro et sub Petro
“Com Pedro e sob Pedro”

P.S.: O Latrão constitui um complexo formado por: Patriarcal Basílica, Seminario Maggiore Romano, Pontificia Università Lateranense e o Palácio dos Cônegos e o Pontíficio Palácio do Latrão.

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