Direto da Sacristia
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“Dies irae” – Dia da ira

Postado em 02 novembro 2010por E. Marçal
Ofício do dia: Comemoração dos fiéis defuntos

Apesar de todos os dias, sobre os milhares de altares erguidos sobre o mundo, comemorarmos a santa Eucaristia, em Corpus Christi dedicamos um dia específico para a sua adoração e exaltação. Em todas as missas fazemos memória da veneração dos santos, de modo particular na oração eucarística; contudo, no dia 01 novembro – no Brasil, no domingo seguinte, quando o dia é ferial – lembramo-nos de todos de uma vez e o povo católico é exortado insistentemente à santidade. Do mesmo modo, embora incluamos os nomes dos defuntos cristãos nas orações da Santa Missa, hoje elevamos os mais ardorosos sufrágios em favor de suas almas. Tal costume começou na Abadia de Cluny, no ano 998, com o abade Santo Odilon. Após recomendações dos Papas Silvestre II, João XVII e Leão IX, no século XIII a comemoração dos fiéis defuntos foi fixada no dia 02 novembro, a seguir da Solenidade de Todos os Santos.

Nós cremos na vida eterna

Celebramos hoje a festa da beata esperança da ressurreição dos mortos, daqueles que dormiram no Senhor. O mistério da morte é visto por diferentes prismas. Para alguns, é o fim de toda a existência: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”; para outros, é o triste fim de todos; há ainda quem diga: única certeza da vida humana. Porém, nós cristãos vemos este mistério não como um fim natural na ótica da pessimística filosófica, mas na da fé daqueles que foram remidos pelo mistério da morte do primogênito entre os mortos, Cristo Jesus.

Na época helenística e romana, a cultura via na morte o fim de tudo. Era fruto do destino de todos os homens, criados por algum deus, porém, criados para a morte, a sepultura e o escuro do túmulo. A testemunha deste pensamento a famosa frase “Comamos e bebamos pois amanha morreremos”, típica frase pessimista. Temos ainda o testemunho que vêm das catacumbas da antiga Roma imperial, de cujos epitáfios leem-se frases relacionadas a feitos dos ali sepultados: “Viveu bem, aproveitou a vida e agora ordena aos seus de render-lhe homenagem pela sua vida e obras ricas e duradouras”, lemos esta perícope nas catacumbas da necrópole pagã.

Os primeiros cristãos convictos que todos nós teremos o oitavo dia, o dia da ressurreição, imediatamente compreenderam que não se poderia chamar de necrópole o local onde os santos esperam a beata ressurreição, onde seremos tudo e todos em Cristo. Partindo deste princípio, nossos antepassados na fé chamaram de “Coemiteryum” – dormitório, onde dormem o sono no qual um dia todos estarão. À sepultura em torno aos túmulos dos mártires as orações gravadas nas paredes sepulcrais, pedindo a proteção dos mártires aos falecidos. Os desenhos do pavão, dos rios, dos cervos da Cruz e a alma orante são sinais de testemunho da certeza da ressurreição.

Professamos no credo que acreditamos na vida eterna, que consiste na visão beatífica de Deus. Sermos inseridos de forma eterna no eterno presente de Deus. Uma prova disto é o costume antigo de oferecer, pela Igreja que padece no purgatório, o sacrifício da missa, fonte inesgotável de graças. Este santo costume é fruto da nossa fé na ressurreição.

E louvável o belo hábito de visitar hoje os nossos irmãos que nos precederam marcados com o sinal da fé; porém, somente tem sentido se vamos aos cemitérios não encontrar os restos mortais de parentes e amigos, mas reafirmar a nossa fé na vida eterna, pois aquilo que sepultamos será ressuscitado de forma gloriosa para, unidos alma e corpo, gozarem interminavelmente da alegria eterna.

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