Entrou papa e saiu Papa
Postado em 19 abril 2011por E. Marçal
6º ano de um pontificado fecundo
Quando, lentamente, o andamento das votações me fez compreender que,
por assim dizer, a guilhotina teria caído sobre mim, comecei a ter vertigens.
Estava convencido de que tinha desempenhado a obra de toda uma vida
e de poder transcorrer os meus últimos dias em tranquilidade.
Com profunda convicção disse ao Senhor:
Não me faças isto! Dispões de pessoas mais jovens e melhores,
que podem a enfrentar esta grande tarefa com outro impulso e vigor.
Permaneci então muito comovido com uma breve carta
que me escreveu um irmão do colégio cardinalício:
“Se agora o Senhor te dissesse a ti “segue-me”,
então recorda-te do que pregaste.
Não te recuses!
Sê obediente como descreveste o grande Papa, que voltou à casa do Pai”.
Isto admirou-me profundamente.
As vias do Senhor não são confortáveis,
mas nós não somos criados para o conforto,
mas para as coisas grandes, para o bem.
Bento XVI, aos seus compatriotas alemães
25 abril 2010
Há quem diga que o Em.mo Cardeal Carlo Martini, jesuíta e Arcebispo emérito de Milão, foi revelado dentro do Conclave de abril de 2005 um forte candidato à sucessão papal. Contudo, seus argumentos sobre sua frágil saúde desencorajaram os eminentíssimos eleitores. Observemos – para constatar realmente que houve mais de um forte papabile – que a eleição só foi finalizada no terceiro escrutínio, iniciado na tarde da terça-feira. Houve também inúmeros votos para o Em.mo Cardeal Jorge Maria Bergoglio, também jesuíta e Arcebispo de Buenos Aires. Se o então Cardeal Ratzinger, ingressando no conclave com vitória certa – como diziam os jornalistas, então nada deveria prolongar as votações – se bem que três escrutínios não podem ser julgados como demorados, não se falando em um cardeal que não sairia papa.
De qualquer modo, Bento XVI rompeu a tradição do adágio italiano: quem no conclave entra papa, sai cardeal. Ratzinger entrou papa e saiu Pontífice; certamente só houve uma inicial falta de consenso entre os cardeais no nome daquele que era o nome certo para a época certa.
Ratzinger. Ratzinger. Ratzinger. Ratzinger. Ratzinger…
Imagino o coração do futuro Pontífice. Dançando mais agitadamente dentro do peito, enquanto ouvia o seu sobrenome ser pronunciado mais e mais vezes pelo cardeal escrutinador, até chegar ao número de 84/115, 7 a mais da cifra necessária para uma eleição certa. E depois, acreditando no chamado do Senhor, a resposta afirmativa à pergunta feita pelo Cardeal Sodano, então Vice-decano do Colégio de Cardeais. E as lágrimas, na Sala destinada à paramentação do eleito. E, finalmente, a primeira aparição pública. As palavras acertadas e a primeira Urbi et Orbi.
E então, vieram as viagens apostólicas pelo mundo, as visitas pastorais em sua diocese, os pronunciamentos, as canonizações, os documentos que iluminaram a Igreja, mesmo que ainda sejam causa de incompreensão – como o Summorum Pontificum e o Anglicanorum Coetibus, as belíssimas e sapienciais homilias, a devida atenção dispensada à Sagrada Liturgia – como segura forma de ensinar as verdades de fé, o Ano Paulino, o Ano Sacerdotal… Como também, não esquecemos os momentos difíceis, que foram oportunidades de manifestarmos nossa proximidade espiritual e nosso apoio filial: o discurso na Aula Magna da Universidade de Regensburg, o protesto contra sua presença na abertura do ano acadêmico na Universidade La Sapienza, as acusações morais no ano passado, a falta de comunicação na Cúria Romana e entre seus mais diretos colaboradores… Felizmente, a Igreja e seus pastores sempre saem vitoriosos depois de alguma turbulência. E assim o será até a segunda vinda de Cristo!
Que o Senhor o conserve no alto posto do Pontificado até o dia estabelecido por Ele. Para isto, que ele viva tanto ou mais que Pedro!
Salve Bento XVI!