Direto da Sacristia
×
×

Exéquias do Arquiduque Otto da Áustria

Postado em 19 julho 2011por E. Marçal

Com informações do New Liturgical Movement e da Wikipédia

Fotos da Day Life


Dois dias após a cerimônia do matrimônio do Príncipe Alberto II de Mônaco, o Arquiduque Otto da Áustria faleceu enquanto dormia, aos 98 anos. Nascido em 1912, era filho mais velho do Beato Carlos I, o último Imperador da Áustria e Rei da Hungria, e o primeiro na linha sucessória se ascendesse novamente o Império húngaro-austríaco. Durante a sua longa vida, como Chefe da principal dinastia da Cristandade e do Sacro Império Romano-Germânico, defendeu a unificação da Europa nos valores do Cristianismo, representando um declarado opositor da chaga comunista.

Quando foi-lhe dada a graça do Batismo pelo Cardeal Franz Nagl de Viena, recebeu o nome Franz Joseph OttoRobert Maria Anton Karl Max Heinrich Sixtus Xavier Felix Renatus Ludwig Gaetan Pius Ignatius. Quando seu pai ascendeu ao trono imperial em 1916, tornou-se príncipe herdeiro da Áustria, Hungria e Boêmia. Contudo, em 1918, fim da Primeira Guerra Mundial, as monarquias foram abolidas, fundados governos republicanos e a realeza, exilada; porém, a Hungria ainda permaneceu sob um reinado, o do anti-semita Miklós Horthy. Morto prematuramente seu pai em 1922, ele e sua família passaram a residir na Espanha, onde o Arquiduque também estudou, impedido pelo Parlamento austríaco de voltar ao seu país e tendo todos os seus bens confiscados. Mesmo com o apoio à República, 1.603 municípios austríacos concederam a Otto von Habsburg o título de Cidadão Honorário.

Foi condenado à morte pelo câncer nazista. Primos seus foram presos pela Gestapo e enviados a campos de concentração de Dashau. Declarado opositor também do genocídio étnico da Segunda Guerra Mundial, ajudou a fuga de cerca de 15 mil austríacos, muitos deles judeus. Mais uma vez com sua morte ordenada, fugiu para Portugal, e depois para os Estados Unidos da América, donde iniciou campanha para limitar os bombardeios contra a Áustria. Stalin pôs fim aos seus planos de restauração da Áustria-Hungria. Mais uma vez Hitler demonstrou seu ódio à família imperial quando, em 1941, pessoalmente revogou a sua cidadania austríaca e a deu apátrida. Foi até mesmo proibida de usar a partícula “von” em seu sobrenome (!).

Não permaneceu estranho à política e nela ajudou a combater o laicismo e às ideologias que querem destruir a herança espiritual europeia. Foi Presidente da União Pan-europeia (1973-2004) e, depois, foi eurodeputado pelo Partido Social Cristão de 1979 a 1999.

Poliglota, falava fluentemente o alemão, o inglês, o húngaro, o espanhol, o francês e o croata – desejo de sua mãe, que acreditava que ele seria soberano de muitos povos.

No Natal de 1966 foi autorizado a voltar a seu país natal, depois que viveu 16 anos na Baviera. Com a Princesa Regina de Saxe-Meininger, falecida em fevereiro de 2010, teve sete filhos. Seu filho mais velho, Karl, é o Chefe da Casa dos Habsburgos desde 2007.





Os ritos exequiais do Arquiduque – que se estenderam por 13 dias – mostraram, mais uma vez, a beleza da Liturgia católica e a importância de sua conservação. Foram rezadas mais de uma Missa De requiem e, por fim, o rito de sepultamento iniciado pelo curioso e belo diálogo com os Frades Capuchinhos às portas da igreja da Cripta. Notem-se a beleza paramentos antigos, exceto o horrivelmente moderno báculo pastoral usado pelo Cardeal Marx.


As exéquias começaram em câmara ardente na capela St. Ulrich, em Pöcking, onde houve adoração solene do Santíssimo Sacramento.

O primeiro pontifical De requiem foi rezado no dia 09 julho na igreja de São Pio, em Pöcking, por S.E.R. Mons. Konrad Zdarsa, Bispo de Ausburg. Foi cantado o Requiem de Mozart.




Na segunda-feira, dia 11 julho, o Em.mo Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de Munich e Freising, celebrou o segundo pontifical na igreja dos Teatinos, em Munique. As absolvições foram oficiadas foram da igreja. Foi executado o Requiem de Haydn.






No dia 13 julho, os restos mortais do Arquiduque foram trasladados para o santuário de Mariazell, o mais importante de devação mariana da Europa Central. Ali ele se reuniu com sua falecida esposa, cujos restos mortais lá estavam temporariamente sepultados. Foram recebidos pelo Arquiabade Imre Várszegi, da Abadia territorial beneditina de Pannonhalma, onde o coração do Arquiduque foi enterrado. No Santuário, S.E.R. Egon Kapellari, Bispo de Gras-Seckau, rezou o terceiro pontifical, na presença do Cardeal Schönborn, Legado do Papa Bento XVI.


No dia 14 julho, os restos mortais do casal imperial seguiram para a Capela Imperial da Igreja dos Capuchinhos em Viena, onde permaneceram até o dia seguinte. Lá foram depositadas próximas aos féretros as ordens imperiais do casal, entre eles os mais importantes: o Tosão de Ouro, do qual foi Soberano o Arquiduque, e a Cruz Estrelada, da qual a Arquiduquesa foi a Alta Protetora.







No sábado, 16 julho, os féretros foram transportados para a Catedral de Santo Estevão de Viena. Nela, o Em.mo Cardeal Christoph Schönborn, Grão-capelão da Ordem do Tosão de Ouro e Legado papal para os funerais, rezou Requiem pontifício, onde foi lido pelo Núncio Apostólico na Áustria o telegrama do Santo Padre. Concelebraram prelados que residem na jurisdição do antigo Império Austro-húngaro, entres eles, Mons. Henryk Hoser, Arcebispo de Praga, Polônia; Mons. Róbert Bezák, Arcebispo de Trnava, Eslováquia; Mons. Vojtěch Cikrle, Bispo de Brno, República Tcheca; Mons. František Lobkowicz, Bispo de Ostrava, República Tcheca; Mons. Franjo Komarica, Bósnia e Herzegovina; e Mons. Anton Jamnik, Auxiliar de Ljubljana, Eslovênia. A Santa Missa De Requiem foi assistida por Chefes de Estado e delegações de famílias reais e de governos, inclusive o Presidente, o Chanceler e vários ministros do governo austríaco, os Reis da Suécia, Bulgária e Romênia, o Grão-duque de Luxemburgo, o Príncipe de Liechtenstein, as Princesas da Espanha e da Bélgica, o Presidente da Geórgia, o primeiro ministro da Croácia e o Príncipe e Grão-Mestre da Ordem da Malta.





O Cardeal de Viena paramentou-se com uma casula do século XVIII feita para o funeral do príncipe Eugene; usou o báculo pastoral com o qual o Beato Carlos I da Áustria presenteou o S.E.R. Ernst Seydl, último bispo sagrado em seu reinado, capelão de sua Corte e que o acompanhou em seu exílio até sua morte. Todos, Celebrante e prelados concelebrantes, usaram mitras simples. Em todos os paramentos era presente a cor negra. As leituras foram feitas por membros da Casa dos Habsburgos e foi executado o canto do Dies Irae, que no rito antigo encontra-se rubricado para as missas exequiais. Após a bela homilia (no original, em alemão) do Cardeal Schönborn, as intercessões foram lidas pelos sete filhos do Arquiduque, com introdução e oração final do Rev.do Pe. Paul von Habsburg.





Nos ritos finais, o Cardeal depôs os paramentos próprios da Missa e paramentou-se com roquete e pluvial para a Última Absolvição e Encomendação, seguidas da procissão para a Cripta da igreja dos Capuchinhos.

À porta da igreja dos Capuchinhos, executou-se um magnífico rito que pede o ingresso na igreja dos restos mortais do Arquiduque, que certa vez foi descrito pela imperatriz Zita. Na segunda resposta, porém, houve uma pequena variação: em vez da versão abreviada dos títulos do falecido, enunciou-se as funções e honras que recebera.

O cerimoniário da corte bate por três vezes à porta com um bastão.

O frade capuchinho, que está do outro lado da porta, diz: “Quem pede entrada?”

O cerimoniário da corte: “Otto da Áustria, pela graça de Deus, príncipe-herdeiro da Áustria-Hungria, Príncipe Real da Hungria e Boêmia, da Dalmácia, Croácia, Eslavônia, Galícia, Lodoméria, Ilíria, Grão-duque da Toscana e de Cracóvia, Duque de Lorena, Salzburgo, Stíria, Caríntia, Carníola e Bucovina; Grão-príncipe da Transilvânia, Margravina da Morávia, Duque da Alta e Baixa Silésia, de Módena, Piacenza e Guastalla, de Auschwitz e de Zator, de Teschen, Friuli, Ragusa e Zadar; Conde Principesco de Habsburgo e Tirol, de Kyburgo, Göritz e Gradisca, Príncipe de Trento e Brissanone, Marquês da Alta e Baixa Lusácia e na Ístria; Conde de Hohenems, Feldkirch, Bregenz e Sonnenberg… etc.; Senhor de Trieste, de Cátaro e de Marca Víndica; Grão-voivoda da Voivodia da Sérvia…; etc etc”

O capuchinho: “Não o conheço”, responde secamente.

“O Senhor Otto von Habsburgo, Presidente e Presidente Honorário da União Pan-europeia, Membro e Chefe da Casa do Parlamento Europeu, Doutor Honorário de numerosas universidades e Cidadão Honorário de muitos municípios da Europa Central, Membro de veneráveis Academias e Institutos, Portador das mais altas condecorações do Estado e da Igreja, Ordens e honras, que foram concedidos a ele em reconhecimento a sua luta de décadas para a liberdade dos povos, para o que é certo e justo”.


Capuchinho: “Não o conheço”.

Bate-se novamente com a espada por três vezes à porta.


Capuchinho: “Quem pede entrada?”

“Otto, mortal e pecador”.


“Que ele entre”.



É interessante que quando são apresentados ao frade os títulos reais e nobiliárquicos do falecido, ele não é reconhecido. Quando, por segunda tentativa, são descritas as honras recebidas como um civil, acontece a mesma coisa. Porém, quando é dito que o falecido é um pecador, aí sim ele é reconhecido – alusão que não se leva nada na morte, nem mesmo o corpo mortal, a não ser a consciência da miserabilidade humana que foi redimida pelos merecimentos da Cruz.




Após o funeral em Viena, o coração de Otto foi trasladado para Budapeste, onde outra Missa De Requiem foi celebrado pelo Em.mo Cardeal Paskai, Arcebispo emérito de Budapeste; seguidamente, o órgão foi sepultado na Abadia de Pannonhalma, como reza a tradição.

Sugestões de artigos