“Nada mais me agrada nesta vida”
Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho
“Vós a ouvistes, ó Senhor, e aceitastes suas lágrimas
que, de tantas derramadas em contínua oração,
regariam toda a terra”.
Ainda adolescente, foi dada em casamento a Patrício, um proprietário de terras, não-cristão, de má fama e muitas vezes falso, infiel no seu casamento; não obstante isso, o caráter suave e doce de sua eposa venceu a sua amargura. Um ano antes de morrer, em 371, Patrício recebeu o batismo e tornou-se cristão.
Dos três filhos, frutos de seu casamento, o mais velho Agostinho e seu comportamento dissoluto, sempre foram causas de sofrimento a Mônica, que rezava insistentemente para a sua conversão ao nome de Cristo. Quando Agostinho se mudou para Roma, e o fez de tal modo que sua mãe não o seguiu, Mônica passou a noite em lágrimas diante do túmulo de São Cipriano – como ele mesmo narrou em suas Confissões.
Em 385, ela embarcou para Roma e de lá viajou para Milão e juntou-se ao seu filho, catedrático de Retórica. Suas orações foram atendidas, quando em 25 abril 387 Agostinho foi batizado em Milão pelo bispo Santo Ambrósio, que o atraiu por suas pregações.
Quando Agostinho deixou Milão para Roma, e depois seguiu para Óstia, zona litorânea da Itália, alugaram uma casa, à espera de um navio com destino a África. Foi um período cheio de diálogo espiritual, que Agostinho relata em suas Confissões.
Eu dizia estas coisas, não deste modo nem com estas palavras. No entanto, Senhor, tu sabes que naquele dia, enquanto falávamos, este mundo foi perdendo o valor, junto com todos os seus deleites. Então disse ela: “Filho, quanto a mim, nada mais me agrada nesta vida. Que faço ainda e por que ainda aqui estou, não sei. Toda a esperança terena já desapareceu. Uma só coisa fazia-me desejar permanecer por algum tempo nesta vida: ver-te cristão católico, antes de morrer. Deus me atendeu com a maior generosidade, porque te vejo até como seu servo, desprezando a felicidade terena. Que faço aqui?”
O que lhe respondi, não me lembro bem. Cinco dias depois, talvez, ou não muito mais, caiu com febre. Doente, um dia desmaiou, sem conhecer os presentes. Corremos para junto dela, mas recobrando logo os sentidos, viu-me a mime a meu irmão e disse-nos, como que procurando algo semelhante: “Onde estava eu?”
Em seguida, olhando-nos, opressos pela tristeza, disse: “Sepultai vossa mãe”. Eu me calava e retinha as lágrimas. Mas meu irmão falou qualquer coisa assim que seria melhor não morrer em terra estranha, mas na pátria. Ouvindo isto, ansiosa, censurando-o como olhar por pensar assim, voltou-se para mim: “Vê o que diz”. Depois falou a ambos: “Ponde este corpo em qualquer lugar. Não vos preocupeis com ele. Só vos peço que vos lembreis de mim no altar de Deus, onde quer que estiverdes”. Terminando como pôde de falar, calou-se e continuou a sofrer com o agravamento da doença. Finalmente, no nono dia da sua doença, aos cinqüenta e seis anos de idade e no trigésimo terceiro da minha vida, aquela alma piedosa e santa libertou-se do corpo.
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Provalmente, Mônica faleceu vítima de malária. Mônica foi canonizada não por ter operado milagres ou por ser mártir, mas sim por ter sido, alegadamente, a “responsável pela conversão de seu filho” mostrando empenho em ensinar condutas cristãs como moral, pudor e mansidão, mostrando a intervenção feminina no interior da família, pois foi o meio, através da oração, que contribuiu para a vida religiosa do filho.
Os marinheiros que acompanhavam Agostinho em suas viagens mediterrâneas se confortavam orando à Mônica, pedindo a chegada a salvo.
Seu corpo foi sepultado na igreja de Santa Áurea em Óstia. Em 09 abril 1430, seus restos mortais foram transferidos para Roma e encerrados na Basílica de Sant´Agostino in Campo Marzio, título cardinalício criado pelo Papa Sisto V em 13 abril 1587. Em 24 março 2006, o Papa Bento XVI criou o Em.mo Cardeal Jean-Pierre Ricard, Arcebispo de Bordeaux, para o título presbiteral de Sant´Agostino in Campo Marzio.