A fé na Europa
A figura dos peregrinos em direção a famosos santuários perpassa a trajetória do tempo e ainda hoje, apesar da atual crise religiosa do continente, assinala diversos pontos da Europa e mostra que a fé subsiste, mesmo em um meio que procura afogá-la.
Texto do seminarista Carlos Donato, da Arquidiocese da Paraíba.
Peregrinos no caminho de Santiago de Compostela, Espanha
Caros leitores, esta semana, precisamente na festa da Assunção, deparei-me com uma realidade que pensava não mais existir na Europa, isto é, a dos peregrinos. Homens e mulheres que, vencendo as dificuldades geográficas e metereológicas, caminham por milhares de quilômetros tendo como meta chegar aos santuários visitados por peregrinos dos primeiros séculos ou da Idade Média. Completamente confiados à Divina Providência, esses percorrem a sua via de modo incansável.
Ofereço-vos um exemplo de dois jovens alemães que conheci no domingo passado, quando vieram ao santuário onde me encontro neste período de “Ferr’agosto”. Chamá-los-ei de Dien e Edwirgens, reservando a sua privacidade. São jovens de 25 e 30 anos, correspondentemente, que, partindo da Alemanha, percorrem a pé o percurso de Colônia a Roma, passando por diversos santuários e vilarejos onde encontram abrigo e acolhida.
Quando aqui chegaram apresentaram de imediato a Carta do seu Cardeal Arcebispo, e os carimbos e os selos das diversas paróquias por onde passaram, alemãs, suíças e italianas. Traziam consigo somente uma bolsa com o necessário para sobreviver, uma fé impressionante e a coragem de percorrer países dos quais não conhecem a língua, mas como cristãos eram confiantes na providência divina e na caridade de seus irmãos na fé.
Após haverem caminhado 100 km, do último lugar onde estavam, chegaram a nosso santuário que está em uma montanha. São dois mil metros de altura em uma grande subida. Eram contentíssimos por participarem da Divina Eucaristia, na festa da Assunção em um santuário multissecular dedicado próprio sob o titulo da assunção de Maria aos céus. Do altar, onde me encontrava, olhava os gestos de fé e devoção para com os Divinos Mistérios que eram celebrados, não obstante os sinais que apresentavam do sol escaldante deste período na Europa e de cansaço transformado em alegria de quem pode chegar a uma etapa da meta; podemos dizer um cansaço feliz.
Mesmo sem falar o italiano eles se faziam entender pela linguagem universal dos gestos. E como dizia santo Agostinho, todos nós cristãos falamos uma só língua: a linguagem da caridade. Vendo este fato raro de demonstração de fé, no Velho Mundo marcado pelo indiferentismo, pelo materialismo e pelo niilismo não poderia deixar de compartilhar convosco, caros leitores, este gesto de fé de dois jovens alemães que comoveram a nossa paróquia-santuário “della Madonna Assunta”. Ao raiar do dia seguinte, partiram a Assis de São Francisco.
O exemplo de fé e confiança na Providência desses jovens parece ter dado um beleza a mais às obras de Michelangelo, Borromini e de Perugino que embelezam o nosso templo. Resta-nos somente agradecer ao bom Deus que faz suscitar a fé em nosso Velho Mundo, que cada vez mais se esquece que há um berço cristão donde nasceu e que fez, por meio de tantos missionários, chegar a tantos povos e culturas o anúncio do Evangelho de Cristo. Invoquemos, pois sobre estes dois peregrinos e sobre tantos outros a proteção dos santos da Europa que, como eles, percorreram a pé diversas distâncias para anunciar o Cristo Senhor e Salvador, que a pulcritudine deste gesto suscite mais fé e esperança nesse velho continente europeu.
Carlos Donato é seminarista da Arquidiocese da Paraíba
Residente no Seminário Internacional Sedes Sapientiae
da Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei, Roma
Acadêmico de Teologia da
Pontificia Università della Santa Croce
Correspondente e autor de artigos do blog